Viver é diferente de Existir!
Quando cogitei escrever sobre a morte, logo pensei: “ nossa, que tema pesado... “. Mas preciso escrever para organizar o meu pensar. Após enfrentar a morte de meu pai, e ainda vivenciar o luto, tenho feito reflexões sobre o assunto. Tenho pensado e percebido o impacto que a simples palavra nos causa, e o que significa? Inicialmente apenas consigo pensar que morte significa perda.
Acho que o ser humano, principalmente o ocidental, ainda não foi ensinado a perder, também não sei se isso pode ser ensinado. Mas acho que a palavra morte torna concreta a fragilidade humana. Diz a todo momento que não somos imortais, e que somos impotentes diante de muitos aspectos da vida e da existência humana.
Viver é diferente de existir. Me arriscaria dizer que os dois são elementos importantes na busca infindável de definir vida, algo que não tenho intenção e nem vou me atrever nessa conversa.
A pessoa que nos é tão querida, ao morrer, tem a interrupção ou finalização do viver (aqui também não entrarei em um debate tão profundo, então, leia conforme sua crença). No entanto, essa pessoa não deixa de existir. Sua vivência foi interrompida, mas a existência permanece e se propaga na vida de pessoas que ainda vivem e existem. Permanece em cada história, em cada lembrança, em cada saudade e na vivência de familiares e amigos. A morte interrompe o viver, mas não o existir. Em outra palavras, as pessoas ao morrerem podem deixar de viver, mas a existência permanece na lembrança, na história, na saudade, nos gestos, jeitos e trejeitos de familiares, amores e amigos.
É tão interessante pensarmos dessa maneira, pois parece que uma das maiores feridas no ego humano é a certeza da não imortalidade. Cada um recorre ao recurso que tem para tentar se imortalizar; a grande maioria ainda recorre a nada inovadora idéia de ter filhos, como forma de propagar sua vivência e existência através da procriação, bem simbólico o termo. Outras pessoas tentaram solucionar esse problema escrevendo livros, “Best Sellers”, o que não deixa de ser uma opção criativa. Ter filhos, escrever livros, vender discos, participar de reality show, salvar animais ameaçados de extinção ou tentar acabar com a fome e pobreza no mundo, são caminhos criativos de nos imortalizarmos, são caminhos válidos e compreendem a história, a vivência e a existência de uma pessoa.
Enfim, é fato que a morte interrompe diretamente a vivência, mas a existência termina apenas quando acabam as lembranças, as histórias, a saudade. Algo muito difícil, todo tempo construímos e repassamos histórias, compartilhamos lembranças, vivenciamos e confessamos saudade, todo tempo a vivência propaga a existência, que trata de se imortalizar. Somos humanos, permeados e constituídos de histórias e lembranças.