O que aprendi...
A única coisa que aprendi com meu ‘pai biológico’ foi a não gostar de promessas não cumpridas. Passei a infância e parte da adolescência esperando ele cumprir as coisas que prometia e sentindo a frustração da não realização delas. Lembro-me bem de quando ele dizia: Vou lhe visitar, eu e meu irmão passávamos o dia na janela esperando, arrumadinhos para um passeio com o ‘papai’ e ao entardecer tínhamos que lidar com o sentimento de decepção e exaustão por termos esperado tanto tempo para nada. Éramos crianças, e ele nos prometia, visitas, passeios… e prometia inclusive uma coisa que prezo muito hoje em dia: Atenção. Eu não queria mais nada dele além de um abraço, um cafuné e uma palavra de um pai que protege, dizendo, quem sabe, algo como: ‘Pode ir brincar que estarei aqui quando voltar para lhe colocar um curativo na ferida dos joelhos.’ Ou uma bronca, ‘te puxarei as orelhas se cair menina!!’ Mas nada tive além de sua ausência, suas promessas sem cumprimento das mesmas, seus gritos quando eu era pequenininha. Até hoje tenho pavor de grito de uma pessoa brava. E quando alguém está nervoso e eleva a voz perto de mim, meu coração dispara e eu me sinto mal. Claro que aprendi a me defender. Sozinha, mas aprendi. Mas isso se tornou um trauma chato, além de tantos outros que ele deixou de herança. E o pior é que ele ainda acha que devo chamá-lo de ‘pai’…