Verdades e mentiras
Uma coisa eu descobri nessa filosofia autodidata, premissa da vida
imposta ao ser humano comum:
É muito fácil perder-se nesse mundo.
Explico. Aponte uma verdade absoluta e lá não haverá sequer uma
pessoa. A mentira é pecado original, já nasce com a gente e é nossa
primeira companheira no berço. Se ao nascermos não somos os
agentes ativos da mentira, ela ainda assim estará bem aconchegada a
nós, na expectativa dos nossos pais.
O que ela faz, com o passar dos anos, é tomar espaço à medida que
crescemos, fincar suas raízes, imiscuir-se na nossa substância, como se fosse uma gameleira.
A mentira e a consciência são irmãs siamesas brigando por uma mesma
fatia de coração, alternando seus momentos, forjando-se a si mesmas.
A mentira existe, nas nossas atuações sociais, nas pseudo verdades que
vamos assumindo como verdades absolutas por força de repetição, nos
prêmios que recebemos pelo nosso bom comportamento frente à ordem
estabelecida, nas gravatas que nos conferem credibilidade. A verdade
existe nas nossas fragilidades, nas dúvidas omitidas pelos grandes
vencedores nas suas autobiografias, nos defeitos que buscamos esconder até de nós mesmos.
É esse o preço de ser humano. Buscar-se.
Isso me lembra dois tipos de encontros sociais, ambos em torno de um jantar. Um servido com os melhores talheres, o melhor vinho e o menu mais elaborado, o outro servido com o que se tem disponível, copos de requeijão e uma receita de família. O primeiro, geralmente mais valorizado, mais concorrido e comentado é feito para impressionar. O segundo é feito para agradar, vem da alma, do interesse sincero.
Nós não somos diferentes dos comensais. Só precisamos decidir ao longo da vida o tipo de ceia que iremos servir e conviver com nossas escolhas que no fim determinam o que somos em um universo tão fluido.
No fim de tudo, cada mulher e cada homem, são julgados segundo valores diversos, nem todos seus e deverá buscar suas verdades, como pepitas, em meio à farsa geral de suas vidas.