A PALAVRA QUE ME FALTA
A palavra que me falta
É aquela para entender a minha própria história
É a que não veio na hora de dizer que te amo
É aquela não presente depois do beijo apaixonado
E aquela não dita, mas pensada no hora do amor
É aquela que mesmo dita, poderia ter permanecido só pensamento.
A palavra que me falta é a do lamento dos desesperados.
É aquela dos solitários e tristes.
A palavra que me falta é a da saudade, do amor findo e do que está por vir.
A palavra que me falta é da alegria não permitida, do medo da perda, da vida que não permiti.
A palavra que me falta é da liberdade que me pesa, a dos compromissos que me cercam.
A palavra que me falta é a da linguagem do meu corpo, tentando reinventar-se a cada dia, no passar do tempo.
A palavra que me falta eu a liberto no desejo de expressá-la, na esperança e na justiça do mundo.
É a complacência do espírito irmanado no acordo de benevolência com o corpo alquebrado.
É da terra, de um céu inventado para depois.
A palavra que me falta é a dos livros que não li, dos poemas que não escrevi.
A palavra que me falta é a do mundo, desse mundão com suas imagens e visagens das terras que meus pés não pisaram.
A palavra que me falta é a das línguas que não falo, é a da língua seca do beijo que neguei.
A palavra que me falta é a dos amigos que não vêm, a dos filhos que não tive, a da mãe que já se foi, a do pai que está longe, a da oração – eu te amo – que preciso dizer.
A palavra que me falta é a de um livro, de uma palestra, de uma conversa.
A palavra que me falta é a de um alfabeto inteiro, de a a z, de alfa a ômega.
A palavra que me falta é a do silêncio, é o ouvir ao pé do ouvido, é aquela que se cala na hora certa e se liberta precisa e eficaz.
A palavra que me falta é o dizer sim, não, basta, não gostei, amei.
É a palavra concisa, objetiva, a palavra do agir após o pensar.
15/OUTUBRO/2006