Confissões

Se eu soubesse chorar, estaria muito provavelmente trancada no banheiro aos prantos nesse momento. Como meus olhos são secos, fico ouvindo música (alimentando a alma já que o corpo mal se mantém de pé) e escrevendo textos.

São poucas as circunstâncias capazes de quebrar o espírito, a pobreza material é uma delas. A perda de entes queridos por questões injustas é a outra pela qual já passei, agora que consigo dormir novamente está ficando mais fácil me lembrar dos momentos felizes que passei com minha melhor amiga, ao passo que só me lembrava do monstro que tomou conta do corpo e mente da minha irmã enquanto esta estava viva.

Tenho ouvido muita música, o que inevitavelmente me força a voltar no tempo pras noites que varávamos cantando e suas mãos acompanhavam nossas vozes dedilhando e/ou batendo no violão. Bons tempos em que eu ainda era capaz de sentir coisas a respeito das pessoas. E que estavam ainda vivos e humanos todos os que eu amava.

Meu espírito ainda existe, mas cada vez mais fragmentado. E percebi isto um pouco tarde, espero que não tarde demais, eu me tornei um ser incapaz de criar sentimentos verdadeiros que não existiam antes. Ao me dar conta disso, o lado bom foi que passei a valorizar os sentimentos antigos, o lado principal é que não sinto mais nada novo a respeito de nada nem ninguém, o lado ruim é que meu pessimismo me leva a crer que nunca mais sentirei mais nada.

A pergunta que me vem a seguir se torna inevitável a partir da racionalização construída com base nas memórias de experiências passadas. Deveria eu estar feliz por saber que nunca mais ficarei triste? Mas esta pergunta perde seu sentido a partir do momento em que eu lembro ao leitor: Eu estou/sou insensível. E isto me leva a tomar uma postura indiferente com relação à vida em geral.

C'est la vie, que se há de fazer? Whatever... (pensamento em LIBRAS pra brincar de poliglota...)

"Will nature make a man of me yet?"

Taís Gollo
Enviado por Taís Gollo em 11/04/2012
Reeditado em 19/04/2012
Código do texto: T3606495
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