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Já nem tenho mais adjetivos pejorativos pra falar da vida.

Já não aguento mais mencionar a palavra vida em tudo que escrevo. Em tudo que penso. Essa vida, essa vida, essa vida: essa vida é uma morte. É uma pústula ardida.

Voltei a pensar em suicídio.

Sabe quando dá bocejo pensar em tudo que te espera?

Quando dá tédio? Desespero? A única imprevisibilidade que posso prever nos meus dias vindouros é um acidente ou a descoberta de uma doença terminal. Penso que pouco ainda pode me surpreender. Amor? Não. Emprego dos sonhos? Não. Morte dos meus parentes? Bocejo. Atitudes humanas de pessoas? Utopia. Demissão? Bocejo.

Já expressei meu desejo de ser um robô que não pensa mil vezes.

Acordo robô. Vivo robô. Me fodo robô. Vou dormir robô.

Mas ainda me importo. Me importo com a mendacidade alheia. Me importo sim. Me importo comigo, me importo com o lodaçal a que estamos submetidos.

Me importo com o meu emprego.

Estava tudo tão bem sem acordar querendo morrer por ter que me deslocar até o meu tronco particular pra levar as chicotadas corriqueiras.

Eu nunca pensei que fosse sentir uma dor alheia. Uma empatia que te esgana; uma situação que não é sua e que você adota.

Cansa ver o demônio travestido de anjo disseminando dissabores e galgando degraus a passadas largas.

A pessoa não se importa se você precisa daquilo.

Não quer saber se seu sustento é aquilo. Se aquilo é a sua única fonte de renda. Que, se você for pra rua, estará beirando estar na rua. Literalmente.

Você um chavão no mundo dos negócios: um número.

Vontade de gritar.

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 08/04/2012
Código do texto: T3600398
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