Obrigado, Cioran!
"A capacidade de desistir constitui o único critério do progresso espiritual: não é quando as coisas nos abandonam, mas quando nós as abandonamos que atingimos a nudez interior, esse extremo em que já não pertencemos mais nem ao mundo nem a nós mesmos, extremo no qual vitória significa demitir-se, renunciar com serenidade, sem remorsos e, sobretudo, sem melancolia; pois a melancolia, por discretas e etéreas que sejam suas aparências, implica ainda ressentimento; é um devaneio carregado de agrura, uma inveja disfarçada de languidez, um rancor vaporoso."
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"O que é certo é que o princípio de expansão, imanente à nossa natureza, nos faz olhar os méritos dos outros como uma usurpação dos nossos, como uma contínua provocação. Se a glória nos é vedada, ou inacessível, acusamos aqueles que a alcançaram porque pensamos que a obtiveram nos roubando: ela nos cabia de direito, nos pertencia, e sem as maquinações desses usurpadores teria sido nossa. 'Bem mais que a propriedade, é a glória que é um roubo', ladainha do amargurado e, até certo ponto, de todos nós."
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"Conhecer a nós mesmos é identificar o motivo sórdido de nossos gestos, o inconfessável inscrito em nossa substância, a soma de misérias patentes ou clandestinas das quais depende nossa eficácia. Tudo o que emana das zonas inferiores de nossa natureza está investido de força, tudo o que vem de baixo estimula: produzimos e rendemos mais por inveja e rapacidade do que por nobreza e desinteresse."
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"Aquele que [...] vive na embriaguez da decepção [...] sabe, para sua desgraça, que a justiça é uma impossibilidade material, um grandioso contra-senso, o único ideal do qual é possível afirmar com certeza que não se realizará jamais, e contra o qual a natureza e a sociedade parecem haver mobilizado todas as suas leis."
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Fonte: http://planetcioran.blogspot.com.br/2006/10/citaes-portugus.html
04/04/2012