PALAVRAS DO C[ORAÇÃO]

Senhor, é Contigo que quero falar. Vieste hoje nos cânticos da madrugada, em meio à luz das velas, bater à minha porta, trazer-me um bom dia. E eu O recebi de coração e braços abertos. Há sobre mim o Teu olhar e dele não posso escapar. Simplesmente porque não quero. Entrego-Te minha dor e sei que ela está em Tuas mãos.

Frágil, assim sou eu, Senhor, mas diante de Ti não há temor algum. Palavras coladas ao muro da minha casa dizem que foste condenado à morte. O que fez Contigo a inconsequência dos homens! No entanto é a Ti que recorrem na hora das aflições. O mundo se ilude dizendo que não precisa de Ti: somos fortes, somos ricos, somos autossuficientes, temos empregos, temos poder, status, glamour... Mas, quão pobres e desamparados somos longe de Ti, Senhor.

Quando vem a dor, e esta, sem pedir licença, ocupa seu lugar é hora de olhar à volta em busca de socorro. E que falta faz o chão da fé nessa hora, que falta faz um olhar complacente, sereno como um mar em calmaria nos dando garantias [ainda que em silêncio] de que “tudo vai ficar bem”. É Tua mão que seguramos, Senhor, para conseguirmos abrir os olhos na manhã seguinte. É no Teu colo que pousamos a cabeça, para conseguirmos um sono reparador que nos faça sustentar a próxima hora de angústia.

Ouviste meu lamento Senhor? Sei que não foi o acaso que O trouxe aqui. E me alegrei com Tua vinda, quero que saibas! Foi para isso que plantei flores, apaguei a poeira da rua, varri a porta de entrada, cuidei para que o caminho fosse digno da Tua chegada. E ao Te sentir tão perto, meu coração, em júbilo, celebrou com alegria a Tua companhia!

Senhor, escute, não és para mim esta imagem pregada na cruz. Não és esta figura em cores inventadas. És, sim, esse sopro de serenidade que me toma por dentro e me fala de resignação, de crença e de esperança. És o que minha fé me faz crer que sejas. No Teu manto me envolvo, nas Tuas mãos seguro, no Teu olhar repouso: “Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso, nenhum mal eu temerei, ESTÁS AQUI!”. E, ainda para que saibas, não ficaste na rua, nos versos de cânticos soltos ao frio da madrugada: entraste mais uma vez na Jerusalém do meu coração. Obrigada, Senhor, pela fé que mantém viva a minha confiança em Ti.