Minto, nenhuma vez.
A hora não passava, o tempo não importava. Mas os mares diziam que sim. Divergiam cartéis, separando preços para a partida. Qual passagem de trêm, metrô seria mais dolorosa, mais longa? Qual das ferrovias seria menos pesada? Qual dos loucos só é louco porque a vida não bateu na porta e sim na janela? Nada. As rosas cantarolavam cantigas que eram sinais da véspera da colheita de milho. O que se colhia era mais que grãos de milho, era mais que mil céus pintados de verdes esperançosos, era mais que nunca. Era Idgie pisando com força na estação de trêm, contando passos para o adeus. Como se tivessem cristais pontiagudos caindo de si, ela despejava seus goles de felicidade pelos cantos. E a sua família pequena observando, guardando seus passos contados enquanto ela ia e ia sem olhar para trás. E a pureza das abelhas que pararam seu trabalho, suas incessantes guerras com o mel, para ver Idgie despencando o que podia. Mas não importava; o tempo não mais importava por quem quer que fosse naquela estação. Porque era fim. Porque era adeus. Trovejava e não doía aos ouvidos. O que doía eram as passadas dela corroendo a terra molhada de suores nervosos. Não lágrimas, nunca. Minto, nenhuma vez. Porque Idgie era nunca, nada mais. E então, não lágrimas, nenhuma vez. Ela se apertava forte na roupa, em si e desaguava a vista em sua mente. Os minutos, cansados de esperarem o trêm, sentaram num banco dali. Nada passava, as coisas vinham e esperavam o seu caminho. Sentavam, tomavam um chocolate quente e esperavam mais uma vez o trêm. Era tudo esquecimento, mas não era nunca. E não importava o que caía de cima, se eram pedras de granizo que arranhavam a face. Idgie esperaria sua partida mesmo que não fosse chegar, mesmo que não tivesse mesmo um fim. Era tudo ruínas. Tudo confusões de um xerife desmoralizado que jogavam suas roupas, armas e munições para o ar. Não importava. Nada importa. É só partida.
Mas Idgie nunca partiu.