O que seria o instante em nossas vidas?

A efemeridade da existência física, a velocidade dos acontecimentos e a necessidade do supérfluo contribuem ao homem pós-moderno a cada vez mais se deparar com tal indagação "o que é o instante?", dessa forma, o tempo e o espaço dão lugar às necessidades do homem. Tempos atrás já se difundia a idéia do "Carpe Diem", da Grécia epicurista tendo reflexo na Renascença, sem sombra de dúvidas, a civilização greco-romana disseminou e praticou a fundo o "aproveite o dia", fato que para um medieval, por exemplo, esteve controlado pela Igreja, cerceando-se a liberdade individual do instante na idéia da culpa, do pecado e do castigo. Já para a modernidade, aflora o cientificismo, cada momento precisa ser dedicado para buscar inovações tecnológicas, o homem se divide entre estudos e lazer. Com as duas Grandes Guerras, o imperialismo, e o perigo iminente de extinção da humanidade, o homem se situa numa tensão, extravasando todos os seus talentos na arte moderna: pinturas, esculturas e livros pregando novas formas de pensar, de expressar os sentimentos e expectativas para aquela época.

Eis que o capitalismo vence e a questão continua, a liberdade passa a ser a protagonista das grandes lutas do século XX, mencionem-se as jornadas estudantis de 60, movimentos contra o racismo nos EUA, o feminismo e as lutas contra a censura que, ressurgindo, como na era medieval, cercea o instante dos individuos na promessa de castigos e torturas durante anos. Os sonhos de resgate do socialismo semearam esperanças de reconstrução de uma sociedade mais unânime, na tentativa de fazer do instante um bem comum, porém, sendo um sonho, o lapso tem fim: o controle do Estado sobre os corpos passa a ser o mesmo do capitalismo. E nessa encruzilhada de ideologias e pensamentos plurais, o instante para o homem pós-moderno passa por intenso esfacelamento entre Estado, imprensa e a própria sociedade. Se hoje acordamos dispostos, cheios de vigor e até mais narcisistas que ontem, quem dirá amanhã o que os detentores do poder sobre os instantes alheios guardam para estes? Nesse ambito, a auto-afirmação pode ditar o instante ante a vontade pessoal e reordenar as expectativas conforme o interesse do autônomo.

Dessa forma, o instante, seja para heróis ou pessoas comuns, jamais será unânime ou imutável, ele recebe influências pessoais e coletivas, sejam para bem-estar ou não dos homens. Dos instantes afloram os fatos históricos e, assim, são embasadas as diversas civilizações e culturas. Nesse campo é que nascem as decisões, a autonomia dos povos, o poder que cada um tem sobre o próprio corpo e sobre sua subjetividade. Sendo assim, instante e subjetividade andam de mãos dadas, em especial, nesse palco de multiculturalidade, sofrendo um processo de negligência pela pós-modernidade, haja visto o aumento do processo de anestesia e analgesia dessa época: os momentos passam a ser vistos com indiferença, sendo reflexo do atual cenário de epidemia depressiva. Portanto, de concreto apenas temos que cada momento é resultado de muitas forças sobre nossas vidas e nossas decisões, logo, cada instante é relativo, e pode ser reflexo de nossa subjetividade, sendo cada um de nós responsáveis pelo modo de conduzir nossos instantes.

Dr Niedson Medeiros
Enviado por Dr Niedson Medeiros em 01/04/2012
Código do texto: T3587557
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