A NÃO-INTERVENÇÃO DIVINA...“E DEUS VIU QUE TUDO ERA MUITO BOM”
Com esta frase, arremata Moisés, no Gênesis da Bíblia, no último período, a última das criações de Deus: o ser humano. Para as outras anteriores, no final de cada período cósmico (porque é mais que lógico que o mundo foi criado, não em 06 dias, mas em períodos cósmicos, de longa duração). Aliás, é exatamente isso que a palavra yom quer dizer, período cósmico, inapropriadamente traduzida, através dos tempos, para as línguas, em geral, como dia, o que não faz sentido ser, pois no “quarto dia” é que as potências criaram o “sol, a lua e os planetas”, portanto não poderia haver “dias” antes deles uma vez que não existia a rotação de 24 horas do nosso planeta, criado só no “quarto dia”.
E por que para a criação do homem, no Gênesis, é acrescido o advérbio de intensidade muito? Teilhard Chardin, filósofo francês da Religião, inspiradamente diz que o criação do homem é a “descontinuidade na continuidade”, ou seja, é a diferença, é o “não-automático”, é o “filho mais novo” da parábola do filho pródigo, é o que, diferente do mundo mineral, vegetal e animal irracional, pode pensar, pode decidir. Por isso é que Deus não intervém nas nossas vidas. Porque TUDO já nos foi dado. Temos um planeta capaz de suprir todas as necessidades de alimentação, vestuário e moradia para todos os seres humanos, porém, nossas omissões sociais, descasos políticos, injusta distribuição de renda e afins, criam as mazelas e misérias humanas. E esses mesmos criadores de tudo isso, ardilosamente invocam a “vontade de Deus” e a necessidade de “sofrimento” para justificarem essas situações. As favelas não surgem da vontade de Deus; e sim das nossas. Claro que há as tragédias naturais (secas, terremotos, furacões, enchentes), mas nós temos o conhecimento e as tecnologias necessárias, para enfrentarmos todas essas revezes. Mas a conveniência e a covardia de alguns permitem o sofrimento de muitos...
Portanto, o que quero defender aqui é que não há essa coisa de destino traçado pra ninguém. Ninguém, aos olhos de Deus, é especial ou merecedor de graça alguma (menos ainda os que se acham merecedores). Conforme um alerta antigo e mal ouvido: “o reino dos céus está dentro de nós”...ou seja, cabe a nós, na medidas das nossas escolhas, escolhermos aquilo que vale a pena de ser escolhido, assim não se entra em contradição com o outro alerta do mesmo autor do primeiro citado aqui: “quem semeia ventos, colhe tempestades”.
Mas, dirão muitos: “ E a Escritura? E as profecias que se cumpriram? Isso não é prova cabal de que tudo já está determinado?”. Claro que não!!! O que os profetas faziam (quando faziam) era somente anteverem aquilo que aconteceria por livre escolha das pessoas envolvidas nas circunstâncias. Ou seja, as coisas não aconteceram porque foram escritas; Elas foram escritas porque iriam acontecer, só que este “acontecer” é resultado da livre escolha humana. Porque se assim não fosse, não teríamos, nós a sociedade, condições morais de punir um só marginal ou assassino uma vez que ele estaria apenas cumprindo o “seu destino” ...
Apenas um lembrete: não tenho a mínima intenção (e isso por empirismo de que é inócuo) de tentar mudar a idéia firmemente sólida dos que defendem o Criacionismo ao pé-da-letra como está na Bíblia ou em outro livro sacro de outras religiões, e não enxergam por trás da metáfora grandiosa de Moisés que não há antagonismo entre creação e evolução, só há má interpretação!
Externo a minha opinião formada daquilo que leio, concordo e excogito.