SINTO VERGONHA DO FUTEBOL : MORTE EM SÃO PAULO

No país do futebol há, por consequencia quantitativa da enorme cultura futebolística, um grande número de intelectuais - vivos e mortos - amantes do esporte. De Nelson Rodrigues a Jô Soares, de Chico Anísio a... sei lá, Pedro Bial (o decepcionante Pedro Bial, com seu "topa tudo por dinheiro"), por quem não consigo deixar de ter alguma admiração, apesar de tudo. Mas, enfim, tem um monte de escritor e cientista que ama futebol e todos sabem disso.

Bem. O fato é que havendo homens inteligentes amando futebol, isso não me deixa sentir sozinho nessa e me autoriza moralmente - eu, com vontade de ser meio intelectual - a ser também um amante da coisa e torcedor, sem culpa. E o futebol é uma coisa bonita... É lindo. E é social pra caramba... Imagine uma área do tamanho de 30 campos de futebol com dois caras disputando uma partida de golfe... Quer algo mais anti-social? Pois é.... O futebol é bem mais democrático: 22 homens numa pequena área gramada, suando, pensando em estratégias de vitória, exercitando espírito de colaboração, trabalho em equipe, pensando em fazer coisas bonitas... O futebol é um belo esporte. E é uma grande invenção. Tem uma cara de algo mais que um esporte. Tem cara de comunidade. Tem cara de arte. Tem cara de sonho. E é apaixonante.

Mas o que eu faço com a vergonha que eu sinto quando vejo o que vi, tardiamente, no jornal da manhã de hoje, quando torcedores corintianos comemoram o assassinato de um palmeirense no domingo, com um tipo de passeata incluindo uma musica improvisada pra celebrar a morte do "inimigo"? Eu fico morto de vergonha do Brasil e do futebol. Sei que não tenho culpa do que está acontecendo com a cabeça do torcedor, paulista sobretudo. Uma enorme vergonha de uma coisa que tanto amo. Algo, que, como disse, é apaixonante. Com a triste ressalva dos perigos de uma grande paixão que cega pessoas pouco racionais.

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