Calado

Amanheci hoje tentando lembrar-se de mim mesmo. Eu nem sabia mais que estava aqui, eu tento viver em outra vida, eu resgato de não tão longe as primeiras lembranças que tive, quando penso em você. Na noite, você se sente só, um vazio no peito tão grande quanto à agonia que te faz tremer. E você busca no escuro, palavras para si mesmo, um consolo que não vem, você sabe que não. O amor e o tempo podem te esmagar, crucificar seu corpo em uma cruz, em que você mesmo cravou. Mas você sabe que vai descer dela, e que vai tentar recomeçar tudo de novo. E você volta a buscar palavras para si mesmo, com os soluços e o gosto das lágrimas em sua boca. Imagina um caminho certeiro, mão unidas, beijos e abraços. Talvez não seja nada, possa ser apenas mais um golpe que você leva, uma paixão passageira, você pode pensar assim. Talvez nunca tenha valido, talvez nunca vá valer. Mas a sua esperança é maior que o seu próprio desespero. E você sabe disso, sempre vai saber. Não importa se vai durar dias, meses ou até anos. Ter por um dia já te faz abrir um sorriso, já te faz mais calmo e feliz. E quem sabe, quem sabe você pode ser lembrado, quem dirá ao tempo o que você já fez ou tentou fazer. E quem sabe o pássaro com medo voe ao seu ninho, e te traga o peito aberto, e bata as suas asas junto a ti. Só lhe resta esperar, por algo, você agora deita sua cabeça e tenta em vão dormir, calado.

Lucas Alves de Araújo
Enviado por Lucas Alves de Araújo em 23/03/2012
Código do texto: T3572044
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