Moído
"Hahaha... Você é patético! Me esquece! Sério..."
Fito os caracteres sem conseguir ler. As letras ficam esquisitas, enfileiradas, formando palavras que sequer compreendo em tamanho assombro.
O aparelho vibra, anunciando outra mensagem.
"Ah, e faz o favor de apagar meu número das suas agendas"
Foi assim que essas mensagens ganharam o nome de "torpedo"?
Sinto-me empalado por um arpão, com terra na boca e um mar nos olhos.
Mas não derramarei mais meia lágrima por qualquer mulher ingrata.
Não derramarei.
E escorre. É só uma, que deixo escorrer; a única que autorizo a escorrer.
Outras escorrem.
Uma avalanche delas.
Sem permissão.
Esta deve ser a terceira vez que reafirmo que não sei cumprir promessas.
Quando tudo acaba, começa a primeira promessa: não gostar de mais ninguém.
Depois me comprometo a ficar o resto dos meus dias sozinho.
Depois me comprometo a não me envolver com quem me interesso.
Por fim, o fim é o mesmo: gatos curiosos, cismados, andando atrás de mim aonde quer que eu vá na casa.
Miando.
Arautos dos corações alquebrados.
E eu torcendo pra me metamorfosear em louva-a-deus para enfrentar a próxima cópula.
Para enfrentar o fim vindouro.
22/03/2012