Gostamos de exigir



Que maior evidência pode existir para corroborar a doentia sociedade que conscientemente ou inconscientemente ajudamos a manter, do que ela própria, a sociedade enferma, corrupta, pervertida e contaminada pelo desamor, pela exclusão social, pela presunção e pela vaidade, que está pública e disponível a qualquer observação.
 
Muitos de nós preferimos nos esconder e fingir que não percebemos a desgraça social que cada vez mais se aproxima de nosso lar, do nosso trabalho, das escolas de nossos filhos e se alastra por todo o globo, como uma pandemia, sendo um reflexo da globalização mundial. Esquecem estes que a fome, a exclusão, o abandono e a ausência social e humana atuam como fermento natural para a desumanidade.
 
Temos por padrão cobrar daqueles que abandonamos ao azar da existência, que pensem como nós, que defendam os nossos mesmos valores humanos, quando muitos daqueles excluídos sequer sabem o que significam valores humanos, posto que suas experiências de vida e realizações do viver sequer passam ao largo de qualquer humanidade.
 
Gostamos de exigir humanidade daqueles aos quais viramos a face de nossa própria humanidade.
Gostamos de exigir estima e apreço daqueles que desconsideramos como seres humanos.
Gostamos de exigir valores humanos daqueles que sequer valorizamos como humanos.
Gostamos de exigir consideração daqueles que sequer consideramos como dignos de nossa humanidade.
Gostamos também de cobrar deles o perdão por toda nossa ausência social quando sequer demos a eles a oportunidade de se fazerem humanos.
Gostamos enfim de que eles acreditem que não somos culpados pelo estado desumano e não social de suas existências, como se a sociedade não fosse nossa responsabilidade, como se a sociedade pudesse existir sem nossa corroboração e apoio. 

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 19/03/2012
Código do texto: T3563941
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