Distorcemos completamente nossa sociedade



Distorcemos completamente nossa sociedade. Agora aqueles que mais brilham não brilham pelo encanto do AMOR, ou pela dignidade social de realizarem o seu humano viver.
 
Nossa humanidade foi profundamente ferida em suas qualidades imanentes. Hoje aqueles que mais brilham o fazem por poder, riqueza, posses, bens, prestigio ou vaidades.
Nossa presunção excedeu em muito nossa razão, mas o que esperar de uma sociedade que acredita sinceramente ser o auge da vida, que credita sua existência a um poder criativo intencional, que acredita ser o projeto perfeito e final de um, ou melhor de vários e diferentes deuses.
O que esperar se acreditamos que estamos meramente de passagem por aqui e que o melhor ainda está por vir, se acreditamos que os que agora sofrem serão abençoados por um futuro brilhante. (Como isto diminui nossa espectativa de culpa).
O que esperar se acreditamos que o perdão sempre estará a um passo de nossa salvação.
O que esperar de um povo que se vê como dono da terra, da natureza e de todo universo, que percebe os outros reinos de vida como inferiores e que crê que este ser maior criou tudo para nosso usufruto, nosso prazer, nosso sustento e nosso engrandecimento, apenas para nosso estágio, e que acredita que a natureza é mágica no que possa tudo nos oferecer, sem atingir seu esgotamento.
O que esperar daqueles que possuem provas de que somos filhos especiais do transcendente e que isto nos da garantias de sobrevivência eterna.
O que esperar de um povo que não se envergonha da miséria de milhões, do sofrimento e da fome de uma infinidade de irmãos, e nem do abandono, do preconceito e da exclusão de populações inteiras. O que esperar de uma população que não sofre vendo e presenciando crianças sofrerem.
 
Somos miseráveis por nos vermos como perfeitos.
 
Acabamos, ao longo do tempo, seguindo um caminho do encanto fácil, do acumular bens, poder e riqueza. Escolhemos este caminho, o da falsa felicidade, ou o da felicidade própria, a qualquer custo, por ser mais prazeroso e por acreditarmos que fomos criados para a riqueza e para a bem aventurança total. Assim nos afastamos lenta mais continuamente do natural viver, do social conviver e da humilde fraternidade onde irmãos em espécie são verdadeiramente tratados como semelhantes, independente da cor, credo, posição social, posses ou nível cultural. Em aliança a este afastamento, cada vez mais nos apegamos aos meus e aos nossos, criando verdadeiras barreiras e fossos entre os nossos e os deles, nos esquecendo totalmente que evoluímos como seres sociais.
 
É vergonhoso, mas muitos de nós sinceramente ainda se arvoram na defesa, como únicos verdadeiramente dignos defensores dos nossos  valores, da nossa ética, da nossa sociedade, de nossas posses, de nosso poder, e de nossas crenças. Ainda acreditam que são os nossos “qualias” que devem dirigir nossa humanidade, em detrimento do que possam pensar ou outros. Os diferentes que se unam como puderem, pois na defesa de nossos petulantes e ignorantes valores vamos até a luta mortal se necessário for. Que se dane o preço da nossa vitória. Muitos ainda acham inacreditável aceitar que sendo nós os firmes defensores, escolhidos pelo transcendente, da verdade maior, possam povos menores e pecadores se atreverem a atravessar nosso brilhante caminho.
 
Como é triste imaginar que mesmo de forma inconsciente, muitos de nós pensamos como acima.
 
Ainda acreditamos que nossas verdades e nossos valores estão totalmente alinhados e aderentes as verdades superiores e aos valores morais, éticos e dignos deste ser maior, e que por si só sejam motivos e argumentos para lutarmos ou para mantermos nosso estilo de sociedade.
 
Amar não é realmente fácil. O Amor requer vontade, esforço, continuidade, desapego e doação. Amar é muito mais que solidariedade, amar é ser fraterno é se doar pelos semelhantes em especie, é se expor pela equidade social, econômica e politica, é se revoltar contra o estado de abandono humano que impera, é batalhar pelos semelhantes, todos eles sem divisões de “raça”, nação, credo, cor, posição social ou consanguinidade familiar.
 
O brilho apagado do olhar de uma criança excluída e abandonada à própria sorte ainda é maior que o brilho distorcido, contaminado e doentio dos ricos e poderosos.
 
Haverá de chegar o momento em que os excluídos abandonarão sua passividade e muito mais que revoltados revolucionaram nossa sociedade. Talvez neste momento percebamos que perdemos o trem da vida e ficamos do lado errado, do lado fácil da omissão, do lado insignificante da falsa caridade, daquela que fazemos apenas com o que nos sobra, daquela que agimos como robôs que se livram das sobras, dos restos e dos resíduos, e que acabamos por nos omitir completamente de lutar política, econômica, social e judicialmente pela real transformação de nossa sociedade.

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 18/03/2012
Código do texto: T3561747
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