Acomodado eu? Claro que não...


Na obra de alvenaria que se erguia, curiosa conversa chamava a atenção.

- Seu Osvaldo, há quanto tempo você trabalha na construção civil? Perguntava Gleison, um jovem de 18 anos.
- Há 30 anos.Responde ele com orgulho. 
Ambos trabalhavam na edificação de uma casa, na função de servente de pedreiro.
- Caramba seu Osvaldo, quanta experiência nesse tempo todo. Em quantas obras, mais ou menos, o senhor trabalhou? Indagava o rapaz.
- Só aqui na cidade pra mais de 50, eu acho!
- Quantos anos o senhor tem hoje?
- 45
- Então trabalha desde os quinze nessa profissão. Gleison falou espantado ao fazer os cálculos de cabeça.
- Seu Osvaldo vou lhe fazer mais uma pergunta, se o senhor não se importar?
- Com o que a gente ganha nessa profissão dá pra sustentar uma família, comprar um casa, ter um carrinho na garagem e guardar algum dinheiro. Perguntou o moço ansioso.
- Dá sim. Respondeu com segurança
- Hoje você já tem tudo isso!!!! Comprado com o que você ganha? Dise o jovem.
- Olha, eu ganhei um terreninho de vinte e cinco metros quadrados da prefeitura. Sempre ganho algum material nas construções que trabalho. Hoje tenho minha própria casa de uma peça, onde moramos eu e minha esposa, quatro filhos casados e um caçula, mais dois netinhos. Tem algumas coisas pra fazer na casa, mas é acolhedora.
- Seu Osvaldo o senhor é um lutador, parabéns!
- O senhor nunca quis ser pedreiro seu Osvaldo?
Com um certo ar de decepção ele pensou um pouco e respondeu hesitando:
- Olha eu nunca tive alguém pra me ensinar, como é que eu ia aprender....

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Parei de ouvir a conversa nesse ponto e me pus a fazer um reflexão de forma a que eu pudesse aplicá-la em minha própria vida.
O ser humano saudável possui, dentre inúmeras aptidões, a de aprender na medida em que acumula experiências. As lições se multiplicam, mas entre as que nos são apresentadas e as que são absorvidas existe a força admirável do livre arbítrio. Aprendemos se e quando queremos.
O aprendizado implica no agir humano em direção a um objetivo. É preciso permitir que o interesse e a curiosidade despertem para algum assunto específico e quando se trata de um ofício ou uma arte ainda há necessidade de muita paciência e exercício.
Acredito que podemos ser felizes em todas as profissões, quando as escolhemos livremente e a exercemos com dedicação, mas há também o processo de aprimoramento pessoal interno em cada atividade.
Não se pode esperar de um profissional com 30 anos de experiência o mesmo desempenho de alguém que há pouco inicia naquele labor. Isso se aplica também à remuneração.

As oportunidades de aprendizado estão batendo à nossa porta todos os dias. Podemos abri-la, mas se não as convidarmos para entrar, elas seguramente irão embora, talvez bater na porta de pessoas menos acomodadas.