De hoje não passa...

Eu quero sair e fumar o pior cigarro de todos para que este faça pelo menos cócegas no meu organismo. Saio e fumo três em menos de dez minutos, debaixo do sol, esperando um câncer: de pele ou no pulmão, tanto faz. Inutilmente, pois duvido que sustentarei minha vida até que um deles apareça.

Não vale à pena, nunca vale. Não existe mais princípio ou objetivo ou crença que faça achar que vale. Não existe mais ninguém, embora em ame muitos alguéns, que me faça achar que vale. Não existe mais nada. Só essa carcaça se rastejando tentado encontrar um jeito de deixar de existir sem se sentir um covarde mais miserável do que foi por toda sua existência.

Minhas pernas e mãos tremem e eu estou chorando em frente a Marginal Tietê. Termino o meu cigarro e volto ao trabalho. Percebi que meu cotovelo está sangrando muito, muito mesmo, tem uma mancha na minha blusa. Entro no banheiro e me olho no espelho. Meu cotovelo continua sangrando e eu não lembro onde bati o machucado que já existia ali porém estava quase cicatrizado. A vontade de abrir o corte que está no meu cotovelo até o meu pescoço é grande.

Cansei das mini hemorragias.

Quero morrer de verdade e não em parcelas.

Quero morrer afogada mas não com água, com meu próprio sangue, e sentir o gosto de todas as doenças que essa merda de vida me agregou durante esses dezoito anos. Dezoito anos.

Dezoito anos e estressada.

Dezoito anos e sem esperança.

Dezoito anos e se rastejando como uma velha leprosa.

É exatamente assim. Todas as vezes que as feridas da minha mente estão quase cicatrizadas a vida dá um jeito de abrí-las novamente. De fodê-las novamente. De me fazer sangrar novamente.

E eu só tenho vontade de acordar e permanecer na cama.

E eu só tenho vontade de esquecer que isso tudo é verdade.

E eu só tenho vontade de não ter vontade de mais nada.

De não sentir mais nada.

Gostaria sinceramente de enfiar o monitor do meu computador dentro do rabo do meu chefe.

Ou de enforcar com o fio do meu mouse alguém que me de "bom dia" com um sorriso no rosto.

Ou de jogar um copo quente de café na cara dos engravatados que desfilam com seus celulares idiotas pela empresa.

Ou de tirar toda minha roupa e deitar no asfalto quente até morrer desidratada.

Hoje a vontade de permanecer na vida de alguém e torná-la um inferno foi maior do que a de sumir mas a preguiça e o fato de eu saber que nada vale mais à pena me fazem desistir.

Hoje a vontade de matar me consumiu mais do que a vontade de morrer mas a preguiça e o fato de eu saber que nada vale mais à pena me consumiu.

A porra da vida não é bela. A porra da vida não é bela. A porra da vida não é bela, caralho.

Por que caralhos esse povo idiota vê beleza em histórias de sofrimento e superação? E por que caralhos eu continuo me incomodando?

Acontece que eu não quero me superar. Não quero provar nada para ninguém. Não quero ser melhor do que ninguém. Nem me destacar por algo. Nem ser diferente por algo que eu faça. Nem ser única. Nem ser igual. Nem sentir o gosto de uma comida boa. Nem vislumbrar paisagens bonitas. Nem ter orgasmos múltiplos. Nem me apaixonar perdidamente. Nem me vingar de ninguém. Nem pedir perdão por merda nenhuma que eu fiz. Nem ouvir sua opinião. Nem ler o comentário que você fará nesse texto. Nem nada. Nem nada.

Não quero que essa porra piore.

Nem quero que essa porra melhore também, por mim morria todo mundo engasgado com o vômito de palavras que colocam pra fora todos os dias.

E foda-se.

nes_ste
Enviado por nes_ste em 13/03/2012
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