Volto a Rosalia

Comenta (em 06/03/2012 06:37), PoetaGalega o "Pensamento" "Continuo com Rosalia...": "Caro, não te convence o "em que"? Certo que "anque" é redução oral de "ainda que"? E, por outra parte, não achas esse poema de Rosalia extremamente irónico?"

Sem dúvida, o poema rosaliano não só é irónico, mas sobretudo é intensamente retranqueiro. Bastaria com o colocar em contextos diferentes, que podem ser. Deixo que os imagines, que os imaginem as pessoas que lerem o poema, a ser possível, inteiro.

Volto a copiar as primeiras estrofes do poema:

Santo António bendito,

dade-me um homem,

anque* me mate,

anque me esfole.

Meu santo, Santo António,

dai-me um hominho,

anque o tamanho tenha

dum grão de milho.

Dai-mo, meu santo,

anque os pés tenha coxos,

mancos os braços.

Uma mulher sem homem...

¡santo bendito!,

é corpinho sem alma,

festa sem trigo.

Pau viradoiro

que onda queira que vá

troncho que troncho.

etc., etc.

...

(*) "anque", "redução coloquial de ainda que", assinalei, e, acrescento, influída pelo castelhano "aunque". E acho que talvez seja a menos má explicação, sobretudo se temos em conta que a língua sobreposta à Galiza e aos galegos, a castelhana, "nacional do reino bourbónico", dispõe da conjunção concessiva citada, "aunque".

A questão dos "castelhanismos" na Galiza, de um determinado jeito, ou no Brasil, de outro, ou em Portugal, de um terceiro, merece mais demorada atenção.