Eu. E outros pedaços...

Permito-me sofrer entre os pedaços

Lacerados do meu corpo.

Meus olhos meio despertos,

Meio dormentes,

Fitam o que aparentam

Serem meus órgãos.

Minha alma apartada,

Pena a procurar o que

Pende ainda para que eu possa

Finalmente descansar.

Observo-me,

Sem enxergar o que ainda me

Mantinha sensivelmente humana.

Minha alma ainda sem corpo,

Dividida em duas,

Certifica que me tornei um nada.

Não consigo encontrar o que teria

Restado do meu coração.

Tento ressuscitar a humanidade

Que havia em mim.

Em vão.

Os que se assemelham a sentimentos,

Não consigo compreender.

Todos parecem me enganar.

E outra parte,

Um terceiro semelhante de mim,

Invoca-me,

Quer que eu reconheça-me.

O cuidado e a bondade para comigo

Mantinham-me livre do sofrer.

Mas não sei viver sem eles;

Insisto em reinventar

Os contos de fadas.

Recrio as lindas estórias

Dos romances e

Amores impossíveis.

Volto a ser por dias o mais feliz dos

Personagens.

Sinto um torpor e me transporto.

Alcanço uma existência paralela

A minha realidade;

Onde quase nada me aborrece

Ou incomoda.

Onde meu corpo vive sensações

De paixões vadias

E avassaladoras;

E meu pobre coração vive emoções

Das mais sublimes e raras.

Todavia,

Há uma hora em que,

Parecem queimar o livro,

E o escritor evapora.

O fel da vida e a crua realidade

Voltam a se apresentar.

E me deixam insensível

E desinteressada assim.

Restam-me as lágrimas.

Secas.

Um vazio no peito a sangrar.

Sem fim.

A música, que,

Ora me acalma e conforta;

Ora me irrita.

As grades da janela me mostrando

Que sou ainda prisioneira.

E o sono,

Que me alimenta;

Faz-me esquecer de mim.

Esqueço-me de tua ausência.

E finjo descansar.

Sinto-me fraca demais para lutar

Por ser quem fui;

Ou tornar-me outro,

Amor...

nouvellelune
Enviado por nouvellelune em 03/03/2012
Reeditado em 03/03/2012
Código do texto: T3533424
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