Eu. E outros pedaços...
Permito-me sofrer entre os pedaços
Lacerados do meu corpo.
Meus olhos meio despertos,
Meio dormentes,
Fitam o que aparentam
Serem meus órgãos.
Minha alma apartada,
Pena a procurar o que
Pende ainda para que eu possa
Finalmente descansar.
Observo-me,
Sem enxergar o que ainda me
Mantinha sensivelmente humana.
Minha alma ainda sem corpo,
Dividida em duas,
Certifica que me tornei um nada.
Não consigo encontrar o que teria
Restado do meu coração.
Tento ressuscitar a humanidade
Que havia em mim.
Em vão.
Os que se assemelham a sentimentos,
Não consigo compreender.
Todos parecem me enganar.
E outra parte,
Um terceiro semelhante de mim,
Invoca-me,
Quer que eu reconheça-me.
O cuidado e a bondade para comigo
Mantinham-me livre do sofrer.
Mas não sei viver sem eles;
Insisto em reinventar
Os contos de fadas.
Recrio as lindas estórias
Dos romances e
Amores impossíveis.
Volto a ser por dias o mais feliz dos
Personagens.
Sinto um torpor e me transporto.
Alcanço uma existência paralela
A minha realidade;
Onde quase nada me aborrece
Ou incomoda.
Onde meu corpo vive sensações
De paixões vadias
E avassaladoras;
E meu pobre coração vive emoções
Das mais sublimes e raras.
Todavia,
Há uma hora em que,
Parecem queimar o livro,
E o escritor evapora.
O fel da vida e a crua realidade
Voltam a se apresentar.
E me deixam insensível
E desinteressada assim.
Restam-me as lágrimas.
Secas.
Um vazio no peito a sangrar.
Sem fim.
A música, que,
Ora me acalma e conforta;
Ora me irrita.
As grades da janela me mostrando
Que sou ainda prisioneira.
E o sono,
Que me alimenta;
Faz-me esquecer de mim.
Esqueço-me de tua ausência.
E finjo descansar.
Sinto-me fraca demais para lutar
Por ser quem fui;
Ou tornar-me outro,
Amor...