Vinho divino

Leio em "A viagem dos argonautas":

"Tal como a raiz do salgueiro bebe a água do regato, bebo vinho.

"Alá apenas é Alá. Dizes que Alá tudo sabe?

"Quando me criou sabia que eu ia beber vinho.

"Se eu fosse abstémio seria imperfeito o saber de Alá"

Omar Khayyām - Rubayat*

"Omar Khayyam, um poeta nascido no actual Irão, no século XI, era crente no Islão e bebedor de vinho. Alguns dos seus maravilhosos rubayat são dedicados ao vinho e ao prazer de beber. Como conciliava a crença com o gosto pela bebida, sabendo-se que o Corão proíbe o consumo de álcool, porque não foi emitida uma 'fatwa' perante as suas heresias? Mas terá, de facto, o profeta proibido o vinho aos crentes?

"Não. Só pôs reticências ao vinho de tâmara. E o desajustamento entre o que o profeta terá determinado e aquilo que os clérigos dizem que determinou, dá que pensar..."

Bastaria essa dupla citação para satisfazer este meu "pensamento". Mas continuo:

Os profetas dizem em nome do [seu] deus, mas dizem quase sempre sem dizer ou dizendo como que não dizem.

Portanto, quem tentar dizer no nome do [seu] deus dizendo e só dizendo o que diz que diz, não será profeta; é simples mentireiro enganador e quase sempre aproveitado [para si].

Nem o Corão nem a Bíblia velha nem a Bíblia nova podem proibir gostar do vinho, criação divina, nem de qualquer outra invenção gostosa: o prazer segue obrigadamente a condição divina

Não fantasiem com deuses atormentadores; os deuses - os divinos - sabem fazer com que as suas criaturas gozem da vida que eles lhes dão grátis.

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(*) O nome completo era Ghiyath al-Din Abu'l-Fath Umar ibn Ibrahim Al-Nishapuri al-Khayyami. Khayyām corrigiu o calendário persa com uma margem de erro de um dia a cada 3770 anos. Em álgebra achou o método para resolver equações cúbicas, retomado por Descartes.

A filosofia de Omar Khayyām difere dos dogmas islâmicos oficiais. Crente em Alá, opôs-se à noção de cada fenômeno particular acontecer pela intervenção divina.

Como poeta é conhecido pelos 'Rubaiyat' ("quadras" ou "quartetos"), famosos no Ocidente pela tradução de Edward Fitzgerald, em 1839.

(Vid. http://pt.wikipedia.org/wiki/Omar_Khayy%C4%81m )