O meteoro
Progresso. Isso é progresso? Plantações de prédios, toneladas de concreto, formigueiro de pessoas, máquinas de fumaça e pet shops 24 horas é progresso?
Na boa, se isso fosse progresso, as pessoas não estariam se autoflagelando de 8 a 26 horas por dia, girando as engrenagens infernais desse panorama escroto, a troco de uma de miséria de equivalentes e novela das seis. Porque se você me olha na cara e me diz que isso é progresso, eu olho na tua fuça e te mando definir progresso. E antes que suas gaguejadas comecem a me despertar a tendência de pular do topo do Copan, lanço pergunta desafiadora: progresso é tudo bem e feliz? Enquanto tu balbucias o teu “é... acho que é” – putaquepariu, tu não sabes nem o que achas – arremesso: quem ta bem aqui? Quem? Não ‘tou vendo nenhum sorriso no rosto de quem anda por essas vielas; pra ser bem sincero não vejo uma pessoa olhar nos olhos da outra faz uma semana e você já ‘tá querendo fugir dos meus.
Sério, sabe como a gente resolve isso: com um meteoro. Um meteoro do tamanho de Júpiter. Porque os dinossauros estavam fazendo um trabalho muito melhor que o nosso e ninguém teve pena de sapecar-lhes um belo dum pedregulho no México. E, como todos sabem, o tamanho do meteoro é inversamente proporcional à qualidade do trabalho. Tamanho de Júpiter e densidade um pouco maior que a de diamante me soa justo.
Ficaria ele lá no céu, no alto de sua excelência, da sua senhoria, do seu doutorado e de sua magistratura, semanas, aumentando a cada dia. A NASA e o BOPE calculariam e recalculariam sua rota até o olho fazer bico, mas de necas adiantaria: esse ‘tá armado e apontado para a cara da nossa mente. E aí, num momento inicial, o caos. Dá-se a largada à era do senhor K, todos no páreo! E saques e crimes e atentados aos bons costumes ocorreriam à pau e a dar com o rodo. Uma beleza digna de uma poesia de Camões, e uma sensação de saudade dos tempos em que só os pagões iam às brasas: “logo eu, que sou cristão!” pensaria inconformado, o homem médio padrão (um metro de sessenta e sete, segundo o último VoxPopuli). Mas logo os mais sensatos notariam que dar tiros pela janela em tudo que se move e trazer um Xbox com Skyrim pro filhão adiantava de pouco - mesmo porque, ele nem aproveitaria metade do jogo antes do encontro fatídico. Imagino que, em seguida, uma torrente de sinceridade reverberaria pelos continentes, como uma tentativa de reprodução daquele senhor assassino, cruel, comunista e ateu que, no leito de morte, se arrepende de seus pecados e doa tudo para a Igreja – amém, Gejus. “A gente já produzia comida suficiente para alimentar o mundo todo!”, “capitalismo é uma caca!”, “democracia não é o melhor caminho!” e “Shakespeare não é grande coisa...” seriam hinos da nova era – Geração Coca-Cola. Enquanto isso, estaria eu na minha cadeira de praia admirando o apocalipse – perdi o começo do filme, mas o final ‘tá com cara de que vai ser bom.
Finalmente, muito maneiro seria admirar a cara de todo mundo se nosso idolatrado meteoro fosse só uma incômoda sujeirinha gordurenta nas lentes do telescópio do BOPE – e, de fato, é.
Na boa, eles têm mais o que fazer que ficar limpando telescópio!