Algo Inconcluso
Eu pensava que tinha resposta para tudo na ponta da língua.
- Por que é melhor ser apaixonado por quem não se pode tocar?
Esta era uma questão para a qual não havia uma resposta imediata, e, inclusive, era uma questão que AFUGENTAVA qualquer resposta imediata.
Após meu silêncio durante longos e intermináveis minutos, ela me deu as costas e se foi, com lágrimas nos olhos.
Ser olvidada por uma ilusão... Logo ela, que era só toques e melindres; presença e suores.
Contemplei suas costas se afastando a cada passada incerta pela relva, margeando o lago central, sentindo crescer dentro de mim uma confusão inenarrável.
Depois de horas perambulando entre crianças e cachorros, ciclistas e casais, idosos e marrecos, havia chegado a uma resposta mambembe: o gostar à distância é o que mais nos coloca próximos de nós mesmos; à distância, molda-se alguém de acordo com a projeção das nossas carências; gostamos do nosso holograma travestido de outra pessoa - outra pessoa que é tão insossa quanto nós, quando desprovidos de paixão. E era justamente pelo tédio da falta de paixão por mim e pela minha vida que eu me permitia fomentar mais e mais uma fantasia amorosa inconcebível: era a minha ressurreição.
Estar com ela, ter seu contato contínuo, seus afagos e desesperos, era ser sempre privado de viver ao meu modo. Eu era um idealista confesso.
E, por isto - justamente por isto -, um idiota fadado a ser sempre um perdedor de mão cheia. Mesmo vivo-morto. Mesmo morto-vivo.
[...]
25/02/2012
Death in Vegas - Help Yourself