Peças num jogo de xadrez
Recentemente, ao ler um catálogo de revistas, eu vi que a capa de uma Superinteressante era sobre bebês geneticamente programados. Os pais poderiam programá-lo para ser imunes a doenças e até escolher sua aparência. Pergunto-me se isso é certo.Tudo bem que, se eu tiver os genes da hemofilia, será natural que eu não queira que um filho meu tenha essa doença e queira usar os avanços da ciência para beneficiá-lo mas, é correto que eu queira que ele seja uma virtuose da música, tenha olhos azuis, seja um atleta excepcional ou um gênio no xadrez? A vida dele, embora esteja se formando dentro de mim, não é propriedade minha, eu não posso manipular a vida de um outro ser humano como quem manipula peças num jogo. E depois, que direito eu tenho de decidir o que alguém será ou quais serão as suas aptidões? Isso não é tirar de alguém a liberdade de ter o direito de ser o que é? E como eu me sentiria se soubesse que meus pais tinham decidido que eu seria boa em matemática, obediente, com habilidades em atividades que exigem raciocínio lógico e científico? Onde estaria o encanto de eu descobrir, por mim mesma, os meus talentos e de desenvolvê-los? No final, filhos são pessoas livres, com direito a ser quem são, ou projetos que os pais podem determinar como terão que sair? E se algo der errado? Os pais amarão menos os filhos que não saíram como eles queriam? Estamos fartos de saber que, quando alguém tenta decidir a vida de outra pessoa, só há infelicidade e frustração.Quantos filhos não são infelizes porque os pais são castradores e decidem até suas profissões? Está certo então que um pai e uma mãe queiram que um filho seja alto, atlético, tenha olhos azuis, seja superdotado e com espírito de liderança, por exemplo? Pai e mãe são proprietários da vida do filho?