Aforismos sobre o carnaval
É a típica época do ano na qual os prostíbulos são fantasiados.
Se tornam o negócio mais popular do país dos não recatados.
Administrando interesses, cujos lucros vêm do divertimento em massa.
Sociedades anônimas gerando sociedade escancaradamente devassa.
Vão se delineando, em atos vãos, as origens de tantas desgraças.
É por isso que na TV e nas estradas se veem multiplicadas carcaças...
Quantas "mulheres de ponta de esquina" estão em "toda esquina"...
Alguém com fantasia de pegar uma meretriz, esse é rito Macunaíma.
Abrem-se as cortinas para o dantesco espetáculo chinfrim.
Com direito a chifrão, chifre ou chifrinho, o popular "chifrin".
Tem de todos os tamanhos e modelos, para casados ou descasados.
Anela-se pelas fantasias da libido, compromissos sérios desprezados.
Esse descaso ao bom alvitre amoroso é coisa do chifrudo.
Nos primórdios tupiniquins veio de Portugal como Entrudo.
Mas carnaval pode ser bacana ou bacanal, carnal com ou sem aval.
Se alicerçou pagão, metamorfoseou-se tão decadente, fruto do mal.
Se perguntado sobre qual escola quero que ganhe o carnaval, resposta: a pública.
Estudantes naus; deriva pela didática dos recursos que vão desfilando de forma pudica.
República Federativa, em sodomias, solavancos e sacolejo farrista.
Baixezas de balas zombeteiras nas Baixadas, Fluminense ou Santista.
Revista Caras (de pau), ilusões vazias e fotográficas dos cúmulos.
Tristeza para mestres da dramaturgia que se revolvem nos túmulos.
Se for para beber, que seja na fonte da Arte da Renascença.
Vediamo il Carnevale a Venezia, notemos imensa diferença.
Auto da barca do inferno, lusitano teatralizado por Gil Vicente.
No Brasil representado, musicado por outro Gil e outra gente.
Dó, ré, mi, fá, sol, lá e acolá, aqui e na Sapucaí.
Rasga-se o verbo, a seda e o que estão cantando aí.
Liberalidade comensal, bebedeiras e desfigurações pret a porter.
Devaneios asquerosos no Planalto Central ou na Marginal Tietê.
Pecado capital, capital federal do pecado, recado dado sem felicidade.
Senhor Jesus, tende misericórdia, conceda vivificação para cada cidade.
Partindo da incidental Cidade do Samba.
Extinguindo cada comportamental muamba.
Exemplares contingentes são os que tem pedalado.
Também recomendo um encontro gospel, intitulado:
"Quem não tem Jesus... Samba!"
Augusto Matos