Se por acaso eu voltar...
Se eu pudesse recomeçar, desejaria não ser capaz de enxergar a fragilidade da nossa existência, mas que ao contrário, tirasse proveito desta condição de acordo com a minha necessidade.
Que não me importasse em ver a desigualdade, o medo, nem a escassez, mas que ao contrário, soubesse tirar proveito destas fragilidades da forma como melhor me conviesse.
Que eu visse o ódio e o celebrasse, assistisse a muitas guerras e as comemorasse, que eu visse a tristeza e a relativizasse, que de fronte à desgraça eu a ignorasse.
Que lágrimas fossem a causa dos meus sorrisos, e que a miséria de um outro fosse o combustível da minha fertilidade.
Que a inocência fosse como flores mortas num jardim que eu jamais visitaria, o horror e a dor não me provocariam contrariedade, e enquanto um chorasse, eu sorria.
Que eu morresse, que eu não sofresse, que eu nunca existiria. Que nesta terra de cegos, eu nascesse sem olhos, mas que se eu os tivesse, os cegaria.