O quase desabafo do Poeta!
"Ah céus! Nesta vida eu, poeta tão sincero, sofro feito pássaro sem primavera! Como aprender a contentar-me com o que, de Deus, com misericóridia tenho, quando, meu já estupefato coração, em seus batimentos, grita o desagrado, mas grita para dentro, sem poder falar, palavras de um mistério que nem a poesia tem o poder de revelar? Filho ingrato sou eu, que tendo tão bonitas bençãos, reclamo aos ventos, nos pensamentos, pelo que, acho eu, em minha indulgente razão, fui privado. Oh Senhor, perdoa-me esta falha! Este poeta que tanto deve aprender a valorizar o que, ainda que desmerecedor sendo eu, tú me destes. Contudo, a este simplório manejador de palavras, cuja missão-aceita é tocar corações, aproximá-los e, através de ti, plantar as amorosas sementes do afeto, concede a paz, a esperança e a paciência em esperar pelo que ainda tú derramarás dos céus! Se houver infelicidade em mim, que ela vire, com o teu poder, uma infidável cascata, desaguando num rio infinito de felicidade..."