Amargamente Insípida.
Cheguei ao limite dessa constante postergação do simples e tão necessário ato de pensar em fazer o que se deseja por medo de magoar alguém além de mim. Acho que me esqueci de tentar fazer bem a essa fulana, que em algum corpo além dos corpos de todo esse alguém, um dia já existiu e não só resistiu, como agora. Restou então a estranheza de ser uma bala de goma com sentimentos, cuja morte é causada por ser-lhe tirada à dentadas de sanguessugas racionais todo e qualquer sabor doce que a vida possa ter ou não. E mesmo aguardando a almejada morte já a algum tempo com as unhas atritando solo firme como um gato a pular de um muro, mesmo salivando pelo suculento prato que a eternidade sem vida me oferece, permaneço. Permaneço no nada, correndo em ruas sem fim atrás de sonhos vazios. Mas espero do fundo do que eu ainda chamo de coração, que em algum momento aquele gosto doce que antes eu sentia em estar neste lugar e que me foi tirado dia após dia por diabéticos de felicidade, cause cáries que deixem buracos doloridos e eternos na vidinha dos parasitas, como estes que decoram a superfície do mundo que eu havia sonhado pra mim. Sim, eu ainda tenho por quem permanecer, embora paradoxalmente não haja um porquê. Mas não que isso signifique alguma coisa, acho que por tempos fui eu quem quis fazer com que significasse.