A OBSTINAÇÃO FEMININA DOS QUILOMBOLAS
Algumas etnias que contribuiram profundamente para a formação da nação brasileira não obtém o merecido reconhecimento das instituições oficiais como tais. Parte significativa da sociedade também se omite em divulgar e reconhecer as qualidades e os direitos que elas devem gozar em virtude dos esforços ímpares para serem preservados como formadores da nação.
Um dos casos mais marcantes dessa natureza é o de uma comunidade de descendentes de escravos no interior do Pernambuco.
Conceição das Crioulas é um distrito do município pernambucano de Salguiero, a pouco mais de quinhentos quilômetros de Recife.
A comunidade foi fundada no início do sec. XIX por seis intrépidas mulheres negras, lideradas pela escrava Francisca Germana. Fugidas do quilombo de Palmares elas encontraram na localidade um esconderijo propício. Além de ser um local de difícil acesso, para não serem localizadas pelos capitães-do-mato, as terras eram férteis e promissoras. Começaram a cultivar o algodão e outras culturas de subsistência.
Atualmente a comunidade possui uma população de cerca de quatro mil indivíduos, todos remanescentes de quilombolas. Além da agricultura para provimento próprio a comunidade se ocupa da confecção de artesanato de barro, de fibras de caroá e de outras plantas nativas da região.
A comunidade criou a associação Comunidade de Conceição das Crioulas, com o objetivo de reivindicar seus direitos. Porém, apesar de ocupar e trabalhar a área há mais de duzentos anos, a comunidade vem enfrentando sérios problemas no sentido de adquirir o título definitivo da terrra.
Apesar da associação existir desde o ano 2000 os negros de Conceição das Crioulas ainda não tem a posse definitiva das terras que ocupam quando ainda eram devolutas. Lideranças da comunidade recebem constantes ameaças e já chegaram a ocorrer mortes suspeitas. O ex-presidente Lula prometeu resolver o impasse, chegou a enviar a então ministra da Desigualdade Social, Matilde Ribeiro ao local, mas o problema permanece sem solução.