Pássaro solitário
Sou um pássaro solitário sentado em cima de um fio elétrico. Triste, à espera de uma novidade, algum motivo de felicidade, quer seja uma notícia sua ou talvez uma descarga elétrica que me afete violentamente a memória e te apague de uma vez de meus pensamentos...
Eu serei qualquer coisa parada no tempo ou quem sabe um nada; um vácuo abandonado no espaço enquanto o amor ainda for um sentimento complicado e as pessoas ainda o deixem de sentir...
De repente pode ser que um sorriso seu me atraia, mas dificilmente me fará voltar atrás porque o regresso sempre me trará de volta ao mesmo lugar.
E, se do contrário, eu morrer por causa disso, peço-te que pelo menos olhes para o céu e lembre-se de mim, pois fiz o mesmo por você quando estavas distante. Que as lembranças perturbem os teus pensamentos até desistires da ideia de me esquecer.
Quero que saibas do meu sentimento, mas acredito que quando isso acontecer será tarde demais...
Estarás como eu: outro pássaro triste a olhar para o infinito;
Solitário, sem rumo, sem saída... Já não canta porque o soluço não permite, já não vê o que se passa à sua volta porque as lágrimas embaraçam-lhe a visão, não voa porque perdeu as asas que o amor lhe dera antes, assim como também perdeu a noção do tempo porque o sofrimento confundiu-lhe a consciência no meio da escuridão.
Agora compreendes-me profundamente, entretanto, se realmente sabes o que passei durante todo esse tempo, a essa altura, assim como eu, também já deves ter morrido ao despencar da autoestima e também de cima do fio elétrico.
(PORTAL, Luciane de Souza.)