Mais ou Menos Bem.
07/02/2012
- Horário de almoço do trabalho,
Eu corro pra encontrar uma das pessoas que mais amo nessa vida: mãe. Pessoa essa que também corre pra encontrar a coisa que ela mais ama nessa vida: meu (pouco) dinheiro.
Nossas conversas sempre acabam com alguém chorando ou gritando e essa pessoa invariável e inexplicavelmente é sempre essa que lhe escreve. Talvez não tão inexplicável assim, minha mãe possui um nível de irritabilidade bem peculiar. Uma mistura de culpa, raiva e fome me invade e eu sigo para a Linha Amarela. Constato mais uma vez que minha família me irrita, mais do que gente parada na esquerda da escada rolante.
Sigo até a escada rolante e repenso sobre minha família me irritar mais do que aquela gorda parada na esquerda (estando a direita toda ocupada). Minha família continua ganhando, de longe.
Olhando pra bunda enorme da gorda, não por nada, mas por falta de conseguir visualizar outro canto na estação que aquela bunda não esteja, penso em quanto tempo perdemos nos magoando, tirando sorriso da face alheia. É muito tempo mesmo. Poderíamos estar dormindo, cagando, mas não, estamos nos magoando. Nessa vidinha mais ou menos que escolhemos ou aceitamos. Sei lá.
Chego na Linha Amarela, essa de cor que combina perfeitamente com a minha vida. Risco no verso de uma nota fiscal(amarela) uma casinha e ao lado árvores e pássaros e maçãs. Do outro lado da nota a coisa já não é tão bonita e simples assim.
[As árvores e pássaros e maçãs também são amarelas porque eu não tenho lápis de cor. Nunca tive, por sinal, mas aprendi a aceitar a vida em preto e branco pra continuar desenhando. Nada de poético, só pobreza mesmo.]
No metrô, vejo um cara bonito mas não consigo achar nenhuma graça nele, que porra. Sorrio e me lembro(pela milésima vez no dia) do desgraçado que roubou meu coração. Ou melhor, do desgraçado que me devolveu o coração que eu pensava já não bater mais por ninguém.
[Costumava enjoar rápido das pessoas
Mas me vejo cada dia mais viciada nele.]
Chega um SMS, ele praguejando sobre seu trabalho, sobre o transporte público. Praguejando sobre a vida, mas dizendo que me ama e eu que o amo também. Ai, ai. Eu respondo, reclamando sobre minha família, reclamando de fome, e dizendo que o amo(só pra não esquecer e mimimi).
Com muito custo saio da estação Tietê, um calor infernal, eu de vestido e mochila. O inferno deve ser bem parecido com esse lugar, só que um pouco mais fresquinho.
Sinto cheiro de milho na manteiga, de gente feia, de merda, e de rio Tietê. Acendo um cigarro pra também contribuir com a caoticidade do local, n'é. Não almocei, meu estômago ronca, minha cabeça dói, e chega mais um sms. É ele dizendo que me ama e, sem saber, fazendo tudo ficar mais ou menos bem.
Voltei do almoço para o trabalho, a mesma decisão estúpida de todos os dias.
Trabalhando pra realizar parte dos meus sonhos
E terminando o dia sem sonhar, cansada demais
De tanto trabalhar.
Mas ele diz que me ama, e eu o amo também.
Uma mensagem no celular, uma transa inesquecível, a gente dorme de conchinha...
E aí tudo fica mais ou menos bem.