ALMAS DIFERENTES NUM BRASIL QUASE IGUAL

"Há dois Brasis..." - Essa frase inconclusa já foi grafada, verbalizada por diversos sociólogos, historiadores e analistas políticos. Aludiam a um país no qual há gritantes disparidades sócio-econômicas entre as várias regiões que compõem a nação. Os autores dessas assertivas tem razão. Entretanto, as diferenças entre os vários aspectos que constituem o país chamado Brasil vão muito além disso.

O Brasil é muito semelhante em algumas características. O fato de três povos terem participado basicamente no processo colonizador - europeus, indígenas e afros - não significa que cada um desses povos sejam de cultura una, sobretudo se imaginarmos que o Brasil tenha sido submetido inteiramente à hegemonia européia. Muito menos trina, se supusermos que os três povos que serviram de base para nossa formação influíram totalmente no caráter do povo brasil.

Podemos observar, em princípio, que os três povos são apenas três troncos étnicos, portanto fracionados em vários povos, com mentalidades várias e as mais diversas tendências sócio-culturais. Vale dizer o seguinte: europeus aqui instalados na época colonial não pertenciam a uma cultura única. Os negros africamos, que para cá foram arrastados, da mesma forma.Os indígenas encontados aqui na ocasião do descobrimento também eram compostos de vários grupos e povos e, consequentemente, eram detentores de culturas variadas.

Bom, esses aspectos relevantes os quais contribuem para que a nação brasileira deixe de ser uma terra de grupos iguais ou muito semelhantes, de grupos sociais com interesses comuns ou pelo menos muito parecidos, têm sua razão de ser. A consolidação cultural promovida pelos aspectos primordiais do povo que a formou foi reforçada por lutas e batalhas ao longo de quase toda a História do Brasil. Essas batalhas eram empreendidas não simplesmente por sentimentos nativistas ou libertários, mas mais exatamente pela manutenção da cultura de cada grupo.

O que se quer dizer é que cada grupo diverso possui anseios e caprichos próprios. Essa gama de virtudes é proveniente das ideias e mentalidades peculiar e exclusiva a cada grupo. O interesse de um grupo é, muitas vezes, completamente diferente de outro grupo por mais que mantenha contatos estritos entre si. E o brasileiro foi formado dentro desse espírito. E mais: as reminiscências culturais dos grupos permanecem influenciando seus membros pelas gerações das gerações. Entendendo que não há nação sem o mínimo de miscigenação, é bem provável que o Brasil seja uma das mais miscigenadas do mundo. E mesmo que a miscigenação étnica tenha exercido uma forte orientação entre a sociedade brasileira como um todo, ela ainda é bem fragmentada quanto à miscelânea da cultura.

Nos dias atuais o mundo se encontra repleto de instrumentos, veículos e agentes que interferem no caráter das pessoas e dos grupos sociais. Tais aparatos são capazes de transformar as mentalidades, os pensamentos, as culturas tradicionais. A nova mídia, por exemplo, equipada com toda sofisticação interfere decisivamente na transmutação das ideias, desejos e interesses de toda uma sociedade. Porém, a propagação dos modos de pensar na televisão -para falar de um dos veículos mais abrangentes - fica muito implícita para uma sociedade que não está acostumada com sua linguagem. No entanto, os veículos e recursos mais modernos continuam com uma linguagem menos acessível ainda. A impresnsa, de um modo geral, trata a comunicação como instrumento para alguns, portanto ela se torna estranha para vários grupos e, efetivamente, fica pouco claro para muitos. Aliás, muitas ideias difundidas pela mídia nem sempre respeitam os anseios e interesses regionais e muito menos grupais.

Apesar de todo o apelo midíatico liderado pelos claros interesses do capitalismo a cultura brasileira ainda é multifacetada. Se visitarmos o país ainda vamos perceber, pelas diversas regiões, que a cultura herdada de cada povo que participou da colonização é muito forte, duradoura, persistente. Certa vez uma aluna argumentou que “a cultura tá no sangue”. Parece estranho porque se analisarmos o dna num laboratório sequer vamos encontrar resquícios culturais. Mas é um fato que nos leva a uma longa refelexão.