POLICIAIS E BANDIDOS: TODOS MARGINAIS

Bandidos e policiais são os personagens mais presentes nas páginas dos jornais e nos noticiários televisivos. Toda a imprensa escrita mantém um espaço para o gênero policial. Muitas emissoras de rádio e de tv possuem programas exclusivos. Isso significa que há uma infinidade de ocorrências e que as redações das emissoras encontram ali um terreno fértil para fazer vicejar suas idéias e interpretações.

Num país onde há liberdade de expressão, mesmo que passe por uma determinada maquiagem, essa situação é legítima. “A imprensa é o ouvido e a voz de uma nação”, disse um dia com muita sapiência o grande mestre Rui Barbosa. É claro que as pessoas são seduzidas por ideias inusitadas, muitas vezes incoerentes, provenientes dos fabricantes de opinião, a imprensa, sobretudo.

A polícia, por exemplo, que é uma constante nos noticiários, é descrita de uma maneira bem inusitada nos últimos tempos. Nesses mesmos espaços o bandido, o criminoso, personagem principal que infringe as leis, é tratado com uma certa complacência e, via de regra, é descrito como vítima ou produto da sociedade. A sociedade, de um modo geral, eu tu, nós, é que somos culpados da má conduta de todos os foras-da-lei? Também, em muitas ocasiões, uma descrição heróica em relação aos bandidos fica subentendida nas entrelinhas dos textos jornalísticos e nas reportagens televisivas.

Os policiais que estão “do outro lado do front” protagonizam um embate incessante com o intuito de fazer valer as leis, de combater o mal e restaurar o bem. Porém esses profissionais do combate ao crime são incluídos numa lista negra e são olhados com a mesma ótica com a que se olha para os bandidos, quando não com mais rancor. Em resumo: são vistos como criminosos. Numa grande parte de casos a interpretação da imprensa visa mais a ação repressora da polícia do que o ato infracional cometido pelo bandido.

É bem sabido que há casos, e são muitos, em que agentes da polícia, e da justiça em geral, cometem excessos e praticam atos ilícitos. Esses casos, entretanto, deviam ser tratados em separado. Uma imprensa coerente deve elaborar textos em que a interpretação das diversas situações fique desvinculada uma da outra.

A imprensa é o grande formador de opinião pública. Ela não pode se dar ao descaso de esquecer que é “os olhos e o ouvido de uma nação”. É, entretanto, através de sua interpretação que toda uma população vai se basear, vai tirar conclusões ou, na maioria das vezes, assimilá-la conforme foi lido ou ouvido.

Ora, se os marginais, bandidos são produto da sociedade, os policiais, com seus atos truculentos ou corruptos, podem ser legitimamente interpretados como produtos da mesma sociedade. E nos mais diversos momentos em que o policial age com prudência?

Bandidos e policiais nascem, crescem e se educam na mesma sociedade, na mesma cidade e na maioria das vezes no mesmo bairro.

Assim, podemos concluir que nossa sociedade é truculenta, corrupta, mal educada e preconceituosa.

Joel de Sá
Enviado por Joel de Sá em 04/02/2012
Reeditado em 04/02/2012
Código do texto: T3480342
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