HOMENS MADUROS Lilian Maial

(...) a observação feminina leva-nos a pensar através da poesia. Mesmo aquelas que não deixam fluir, ou não conseguem transcrever para o papel o que percebem, observam, devaneiam a respeito dos homens, ou de um, em particular, têm a nítida diferença das fases pelas quais eles passam.

Pode-se, até mesmo, traçar um paralelo entre a fragilidade masculina, com o avançar da idade, e a feminina. Nós, mulheres, tememos a menopausa, a diminuição da libido. Eles temem a impotência, a dificuldade de ereção e satisfação da parceira. Nós, o temor de tudo despencar, murchar, inchar. Eles, a calvície, os pneuzinhos, as manchas na pele. Nós, a celulite, as rugas. Eles, o infarto, as rugas. Nós temos os estrogênios, as pílulas. Eles agora têm Viagra, o “santo remédio”. Mas ambos temos nossos temores ocultos, nossas buscas desesperadas, nossos segredos inconfessáveis, nossos sonhos. Nessa fase, as mulheres tornam-se mais suscetíveis a romances, por vezes, com homens muito mais novos. E eles, com meninas também.

Curioso, é que nós ainda nos espantamos e criticamos a nós mesmas, quando vemos uma quarentona acompanhada (e bem) de um homem com menos de trinta anos. Mas nada falamos, ao vermos um homem de cinqüenta, com uma mulher de vinte.

Somos nós as machistas. E por pura covardia e inveja. Homens, nesse aspecto, são mais solidários. Encobrem-se uns aos outros. Nós, bobas, não. Somos capazes de gestos atrozes, quando nos deparamos com algo dessa esfera, para a qual não temos coragem de assumir, embora o desejo queime por dentro. São as falso-moralistas que tanto abominamos, mas que tão bem conhecemos. E que, muitas de nós, insistimos em valorizar, como alicerces de algo falido e ultrapassado.

Mas estou aqui para falar de homens! E vamos a eles...

Já notaram como um homem maduro é frágil? Sim, frágil! Parece que ele segue sempre um caminho com força, luta, perseverança, sacrificando a tudo e a todos pelos seus objetivos, desde que nasce, até os trinta e tantos, quarenta anos.

Subitamente, então, se vê sozinho, sem ninguém com quem dividir as angústias, já que assume papel de “chefe da família” invulnerável.

Mal sabem eles (esposa e filhos) das noites mal dormidas, dias de tédio, questionamentos que aquele homem, achando-se, de repente, moribundo (não esqueçam dos riscos coronarianos), passa a cada dia.

Não há com quem dividir seus temores, com quem compartilhar a vontade de comer algodão doce e andar na roda gigante. Não há com quem dividir as músicas da adolescência, que vêm à mente não se sabe de onde, só para fazer lembrar como o tempo passou.

Necessita de amigos, mas não aqueles amigos em comum com a família. Não! Necessita de amigos e amigas com quem rir de besteiras, que a família franziria a testa. Necessita ser admirado pelo seu físico, inteligência, força, mas também por sua sensibilidade, perspicácia e desempenho.

Adora, embora não confesse, receber flores e poemas. Aliás, como é apreciador de poesia! Sente medo do ridículo, mas quer se apegar à juventude, seja através de gírias disfarçadas sob “como diria meu filho”, ou da roupa mais “maneira” que “ganhou” de alguém, ou daquela gravata de motivo da Disney, que fingiu que não gostou, mas que “precisa” usar para agradar o chefe que o presenteou. Treme de medo da limitação, da doença, da pobreza, enfim, do fracasso. Geralmente não encontra apoio aos seus questionamentos, porque simplesmente não partilha seus receios, talvez até por não ter consciência deles. Mas a angústia está lá. E, aí, uma companhia agradável, preocupada com seu bem-estar, pode ser o estopim para relacionamentos extraconjugais. É nessa hora que ele se sente menino de novo, viril, bonito, atraente, inteligente, capaz de arrebatar um coração carente e cheio de amor e compreensão pra dar.

Mas vá conviver com ele...

O homem maduro tem seu charme, sua eloqüência. É esperto, vivido, sabe bem o que dizer, a hora certa de dizer, o que fazer, quando calar. Sabe cativar, ser presente, conquistar. Tem paciência para tanto, porque a verdadeira conquista é um jogo de paciência. Ainda tem sua virilidade, seu vigor, mesmo que seu físico já não contribua tanto. Troca o número pela qualidade o que, cá pra nós, sai ganhando de longe! Porém, não faz idéia das armas que possui, justamente por assim ser.

A mulher que conseguir entender e fazer desabrochar o homem maduro, terá ao seu lado um companheiro de todas as horas, um apaixonado romântico, um amante paciente e eficiente, um amigo, um confidente, um homem cheio de surpresas, que pode chorar junto de um filme triste, como pode assumir a culpa por uma decisão (dela) errada.

A mulher que souber cativar esse homem, dar espaço a seus sonhos, ser sua cúmplice, sem cobranças, mas sem rédeas muito soltas (porque ele sente o mínimo abandono), terá um homem pronto para o amor. Um homem que sabe como amar e se fazer amar. Um homem que se pode contar, que se pode admirar e manter ao lado, orgulhosa e feliz.

A mulher que encontrar esse homem, que anda vagando, perdido por aí, no meio de relacionamentos cataclísmicos, terá a chance de conhecer momentos de prazer intenso, parceira de alguém que se doa a cada dia, que só espera ser tratado como um homem especial que, na verdade, é. E esse homem está esperando por nós aí, ao nosso lado, em nossa casa, nosso trabalho, nossa rua, nossa roda de amigos. E como tem quarentão atraente!

Resta, depois disso, aprender a identificar o homem maduro.

Procure por um homem que se mostra pela força, mas que está frágil feito um bibelô.

Um homem decidido, mas louco para ser dominado por uma mulher lânguida.

Um homem sem muitas prosopopéias, mas que adora descobrir cada detalhe de uma mulher.

Um homem de aparência comum, mas que saiba se transformar em dezenas de homens, só pra lhe satisfazer.

Seguro de si, mas que precisa desesperadamente de elogios.

Um homem sem compromissos, mas que não abre mão de marcar ponto no seu coração.

Procure, enfim, por um homem seu, mas que precisa ouvir e sentir a cada dia, o quanto você lhe pertence.

Lílian Maial é carioca, médica, escritora e poeta.

Lilian Maial
Enviado por Clara da Costa em 31/01/2012
Código do texto: T3471464