ESCREVER SEGUNDO GRACILIANO RAMOS.
Eis uma aula de um de nossos paradigmas não só de domínio fomal, mas de luta em prol da justiça e da liberdade. Cada traço linguístico esculpido pelo mestre denuncia a opressão e a dor produzidas nas entranhas (às vezes, às claras) dessa organização social perversa, implacável. Vale lembrar que sua lição nada tem a ver com gramática normativa (entendeu?). Vamos, pois, à mesma:
"Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."