CORTAR AS CABEÇAS DOS REIS?
Até pareço um preto velho. Fumando cachimbo. Tomando vinho. Pensando sobre a vida. Os dedos já calejados de acender os fósforos. A boca com gosto amargo do fumo vagabundo. O vinho molhando os lábios ressecados.
A minha volta gatos. Mas eles não miam. Não como antes. Não como deveriam. Assim, como o resto do mundo. Como todos nós. Não gritamos mais. As coisas acontecem e nós apenas aplaudimos. Fazemos conclusões em nossas mentes. Nada mais.
Deveríamos GRITAR. Explodir. Nem mais. Nem menos. Apenas aquilo que somos e sentimos. Porque somos aquilo que sentimos. Temos MEDO. MEDOde falar bobagens. De fazer BOBAGENS. Perdemos tempo. Quando nos damos conta disso, a vida já acabou.
THE END. Fazemos planos elaborados. Desejamos ser “ALGUÉM”. Triste isto. Porque o que entendemos por “SER ALGUÉM”, no mundo em que vivemos, para mim é totalmente ofensivo. Entramos nos lugares que nos dizem para entrar. Falamos o que nos dizem para falar. Trepamos. Comemos. Cagamos. Tudo conforme as regras. TRABALHAMOS. Isto é o “SER ALGUÉM”.
Chego as vezes a conclusão de que não sou ninguém. Com muito orgulho. Fujo das regras. Indisciplinadamente fujo das regras. É difícil. Elas estão em todos lugares. Nem CORTAR AS CABEÇAS DOS REIS é suficiente. As regras sempre nos rondam. Nós mesmos condicionadamente á impomos sobre os outros.
Então eu paro no bar da esquina. Encho um copo. Uma dose apenas. Prossigo. Meu caminho rumo ao infinito. Já na paulada do porre. Falo uma ou outra coisa. Falivelmente grito. Jogo-me do precipício. Mas não caio. Fico voando. Em plena e VULGAR contemplação.