O despertar

O pensamento de que uma pessoa pode voar é uma ilusão tão precisa quanto o pensamento de que uma pessoa pode falar com outra por meio de telepatia. Entretanto, considerando que toda a fundamentação da lógica baseia-se em silogismos, pode-se desenvolver uma fundamentação teórica acerca das ilusões de modo que nós possamos raciocinar através delas.

Em primeiro lugar, deve-se considerar que uma ilusão baseia-se numa ideia não-convencional e que esta ideia baseia-se numa necessidade não satisfeita. Então, se estruturarmos os pensamentos das ilusões da seguinte forma: primeiro, fala-se a ilusão (exemplo: posso voar), depois se diz uma justificativa (exemplo: voo em avião) e, finalmente, fala-se a conclusão (exemplo: o avião me permite voar).

Esta forma de raciocínio limita-se a uma forma de lógica que não alcança o bem supremo, que é a iluminação divina do mundo das idéias e que só pode ser alcançada por meio de um raciocínio que esteja fora do alcance humano e, por isso mesmo, não pode ser compreendida pela lógica, pois a lógica é uma forma de raciocínio humano. Então, para se atingir a iluminação, deve-se criar uma nova forma de lógica, que revele para a humanidade uma parte do bem supremo.

Para compreender a lógica divina, deve-se, em primeiro lugar, aceitar que a lógica aristotélica é limitada ao plano material. Assim, haveria outro plano, em que as premissas da lógica aristotélica e, inclusive, as conclusões não teriam o mesmo valor.

Digamos que, em um plano paralelo ao plano material, em que as leis da física, da química e da biologia fossem as mesmas das do plano material, mas com a exceção do bem supremo, representado pela ideia de Deus. Digamos que, nesse plano paralelo, Deus pudesse transcender a todas as leis naturais, como voar, criar matéria do vácuo e ressuscitar; assim Deus poderia fazer coisas que no plano material não são possíveis e, assim, os valores lógicos estariam divergindo. Então, para alcançar a lógica divina, não se poderia usar valores fundamentados apenas nos fatos materiais, mas deve-se buscar um distanciamento dos valores pelo seguinte raciocínio: não posso usar fatos terrenos para fundamentar os meus valores lógicos, como, por exemplo: Não se pode voar. Mas no plano divino é possível que Deus voe. Logo, o valor impossível para a ideia de voar só se aplica no mundo material, mas não se aplica para o plano divino.

Digamos que, paralelo ao plano divino e ao plano material, haja o plano das idéias. Sendo possível voar no plano das ideias, já observamos o valor impossível para a ideia de voar como falso. Então, para alcançarmos a lógica divina, devemos primeiro usar o raciocínio da contradição dos fatos materiais através dos fatos possíveis no campo dos pensamentos.

A primeira ideia a ser sustentada pela lógica divina e que seria plausível para a lógica terrena seria a ideia de que tudo o que existe passa pelo plano das ideias, como a ideia de que existem pessoas no outro lado do mundo, embora eu nunca tenha ido ao outro lado do mundo, mas as pessoas dizem que há. Esta ideia pauta-se na crença, pois eu não comprovei pela minha própria experiência. Então, tudo aquilo que passa pelo plano das ideias deve ser investigado por valores universais, que possam levar à lógica divina.

Existem ideias perfeitas que podem levar à lógica divina e só é possível alcançar essa lógica divina se transcendermos a todos os valores que possam ser contraditos pela lógica das ideias.

Então, a lógica divina só pode ser alcançada através da comparação da lógica das ideias com a lógica material, e através dessa comparação é que é possível definir a linha de pensamento da lógica divina.

Ulisses de Maio
Enviado por Ulisses de Maio em 26/01/2012
Reeditado em 18/02/2012
Código do texto: T3463549
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