Voar
Diga-me, por dó ou prazer, o que vês lá do alto? O que sentes lá no alto?
Ele, parecendo ignorar meu pedido, foi além e atingiu alturas tais que quase não mais o vi. Ofusquei o olhar no límpido céu em busca de suas longas asas e de respostas, mas nada encontrei. Voltei a perguntar-me: "Que diria aquele pássaro do que há no céu? Que diria aquele pássaro do que sente no céu? Que diria ele do que é o céu?"
Então, alegre e discreto, passou ao meu lado, rapidamente, em silêncio e disse: "Feche os olhos e voe comigo."
Então, com os olhos fechados à maneira do sono, esqueci de minhas pernas, do chão que havia, dos braços pesados e fui cegamente ao seu encontro. Sem esforço de bater asas ou medo de cair, nada mais ele falou. O momento foi suficiente para contar-me tudo que era capaz de compreender.
'O tempo não existe quando voamos com nossos irmãos.'
Naturalmente, antes do escurecer voltei ao lugar que meu corpo estava, retornando ao chão. Tinha então as respostas de minhas perguntas... Respostas que não podem ser expressas por palavras de nenhuma língua humana que esteja dentro de meu conhecimento, respostas que apenas existem por dentro do coração que esteve ao lado dos irmãos que voam.