Esqueça o resto ;)

Abandonei o subjetivismo, a ficção, a embromação: sou eu mesma falando aqui hoje. Acho que matei meu eu lírico afogado em alguma onda de surfe.

Era preciso que esta coluna fosse doce, até porque isso aqui anda escambando para a obscuridade. Esta coluna pretende ser doce. Que seja doce, já diria aquele mocinho.

As pessoas e seu desejo de ser especiais. Há algum tempo venho tentando falar sobre isso, mas – adivinhe? – tive medo de soar amarga. Não consigo mais agredir. Passei toda uma vida agredindo. Pois bem, sofri a retaliação, levei no meio da cara as cargas dos mil exércitos e sou agora este farrapo vencido. Um farrapo doce, porém. Mais doce a cada golpe. Talvez o fato de ser brasileira – ou gaucha, ou gremista, ou magra, ou touro ascendente sagitário, ou etcétera – atrapalhe um pouco os meus propósitos de dulçor, mas não é sobre isso que eu gostaria de falar.

Eu gostaria de falar sobre as pessoas que sentem essa necessidade de ser muito complexas, muito corretas, muito esquisitas, muito bêbadas, ou muito reativas a troco de nada. É um desperdício. Eu gostaria de dizer a essas pessoas que é suficiente ser doce, apenas doce.

Não estou dizendo que é preciso ser mongo. Não mesmo. Todos sabemos como este planeta tem tratado os fracos. Não quero dividir o bem e o mal, não quero polemizar, é bastante importante esclarecer que não se trata de um discurso politicamente correto. Eu tendo, aliás, a me indispor com o correto, com ternos & gravatas, com abotoaduras, com tudo que me impeça de comer meus bifes sangrentos ou ler meus doze horóscopos diários e realizar minhas atrocidades mediante o custo da minha própria consciência. Gostaria de deixar bastante claro que não é preciso ser uma mula teleguiada e servil para ser doce. Você pode ser o que quiser, desde que o essencial se mantenha. Ser doce é ser livre.

Ser doce diante do franco atirador, dos panfletários e suas causas perdidas, dos discursos desprovidos de qualquer ameaça de argumentação minimamente coerente, do algoz e da ovelha, e até mesmo diante daqueles que simplesmente não conseguem ser infelizes sozinhos e insistem em te arrastar para o lodo onde sempre se enfiam. Não há competência sequer para isso, percebe? Essas pessoas acabam do lado de fora, sozinhas, feito a mosca solitária olhando o doce através do vidro.

Olhando o doce. Há um lado doce e ele é vasto. É necessário aprender a ofender docemente, esquecer docemente e desprender-se docemente, como quando espantamos uma borboleta. Borboletas são frágeis, é preciso cuidado com borboletas. Humanos são burros, é preciso não espancá-los só por causa deste pequeno detalhe. Apenas isso: é preciso ser doce. Porque ser amargo não deu resultado, porque há que se quebrar os velhos ciclos, porque ser doce é ser diferente de verdade.