"Dói dizer o tempo todo a si mesma que vai ficar tudo bem, quando todo mundo sabe que não vai ficar tudo bem."
Sabe o que machuca? Perceber que você é uma idiota, e que todas as coisas em que você acredita são só coisas impossíveis, inexistentes, iluórias. Perceber que enquanto você se sentia cheia de felicidade e de esperança do lado de cá, do lado de lá existia o riso, a ironia, e eu sei lá mais o que. Dói muito ser feita de tola a vida inteira. Dói entregar tudo de bonito que há dentro da gente pra alguém que nem sabe o que fazer com isso. Dói dizer o tempo todo a si mesma que vai ficar tudo bem, quando todo mundo sabe que não vai ficar tudo bem. Não vai ficar nada bem. Porque depois desse fracasso, tudo vai ser fracasso. Vai ficar cada vez mais difícil ser sincera e permitir que alguém se aproxime, porque ele vai exigir de ti o que há de mais belo, de mais forte, de mais doce, de mais delicado, e um dia você vai estar tão vazio de tudo isso, que não vai caber mais ninguém. E a gente sabe que é melhor assim. A solidão até que é legal quando a gente a trata bem. Eu tô surpresa de ter sido lembrada depois de sei lá quanto tempo, e depois de sei lá quantas vezes eu precisei de colo. E eu até já tinha me acostumado com a ausência. Eu não tive que aprender que é assim, ele lá, todo bonito, todo feliz, todo apaixonado, e eu aqui? Eu não tive que aprender a conviver com a irrealidade dos meus sonhos? Então, só tô fazendo o que me ensinaram a fazer. Nunca mais um sorriso gostoso e sincero, mas... não restou em mim nem a vontade de entender ou acreditar em alguma coisa. Queria só poder carregar essa vida até onde der. Tem dado certo, poxa. Não me envolver, não me encantar, não me entregar. Porque eu não tenho mais saúde pra abrir meu coração pra nada, pra ninguém. Nem tenho mais idade pra acreditar em tanta mentira. Não tem mais nada aqui dentro, entende? É só isso. E isso é tudo.