Monólogo-cogitações IV

Observo que os pontos de vista das pessoas têm muito a ver com elas mesmas. Sem muito esforço posso ser um bom ouvinte, e não preciso impor uma idéia minha ou discordar da idéia dos outros, procuro simplesmente ouvir, e agora estou convencido de que essa é a melhor maneira de aprender mais: ser bom ouvinte! Tenho lido certos ditados populares que falam disso, mas esse negócio de se dizer as coisas pra quem não as quer aprender, pra quem não as viveu, ou mesmo pra quem as vive e a elas é indiferente, é muito duro, é como pregar no deserto. Procuro cultivar duas coisas agora: acreditar sem ver, coisa que o São Tomé não aceitava e, quando há dúvida aguardo os acontecimentos e as experiências pra ver como e onde se vai chegar. Quando não estou muito entretido, posso estar pensativo, me lembrando de episódios da vida, de notícias do mundo, de minha cidade, de pessoas comuns e de pessoas famosas pelas quais tenho admiração. Observo que as pessoas quando na sua juventude têm bons planos de vida. É natural, se ter esperança e se idealizar coisas boas é o normal, desgostoso é se encontrar alguém ainda bem jovem desesperançado e triste. Alguns conseguem realizar seus desejos mais e melhor do que imaginam, outros não são tão felizes assim. A vida tem dessas coisas que fogem à nossa vontade e umas pessoas dizem ser isso coisa do destino, da sina, do carma de cada um, disso não sei, acho porém que cada um de nós faz o seu destino, pelo menos comigo tem sido assim.

Lembro-me das confissões que me fez um amigo de infância, das aspirações de sua alma na flor da idade, e agora, passados mais de vinte anos, vejo o resultado de uma realidade dura e sombria para ele, já com outras pessoas não é bem assim, estas estão noutra situação e se sentem melhor do que imaginavam.

São tantos os desejos das pessoas e nem sempre elas mesmas sabem o que é bom para elas.

Observo a vida e a vejo cheia de surpresas boas e de adversidades inesperadas e indesejadas, mas parece ser imprescindível a gente passar por diferentes momentos para se chegar a um amadurecimento, a um aperfeiçoamento, a uma lapidação.

Nasci no campo e, no tempo que por lá vivi até me mudar prá cidade, ouvi pelas falas das pessoas, das vidas umas das outras.

Em todo lugar observo que as pessoas gostam de falar do que sabem, de si e dos outros e, nisso entra coisa inventada, coisa desejada, bem e mal.

Lembro da alegria dos meus tios e primos e as brincadeiras nos dias de festa com fogueira nos quintais, as boas risadas e a companhia dos meus avós... foi um bom tempo sim, mesmo com as dificuldades da época, não é que eu considere hoje, um tempo menos feliz com as facilidades da tecnologia e do progresso, cada coisa tem seu lugar no seu devido tempo... há um dito que diz: que se há o inferno na terra, esse lugar é dentro de um coração triste... mas sei e tenho me convencido de que tudo passa e nada fica, às vezes, nos aferramos e salvamos alguma preciosa lembrança para se ter saudade...

O meu santo predileto é São Francisco de Assis, o padroeiro dos animais e ele dizia que devemos saudar a cada novo dia com alegria e esperança, porque ele nos chega como um presente de Deus! procuro sim cultivar essa gratidão!

Lembro-me dos circos que apareciam em minha cidade, suas novidades e suas músicas, não esqueço dos parques de diversão com sua rodas gigantes e o povo de outras regiões. Talvez por isso alguém me considere velho, mas tenho certeza de que cada época da vida tem um sabor e um propósito e, hoje sinto que não há mais aquela mesma magia em meus sentidos, aquele efeito encantador dos meus dias de menino e rapaz.

Busco inspiração em velhas canções, em bons livros, acho que não sou velho enquanto eu estiver buscando alguma coisa. Busco e me admiro com as coisas da vida pelo simples fato de elas continuarem a existir como o ar, as estações, as plantas, os bichos...

Gosto do riso, do bom humor, do sabor da comida caseira, da alegria das manhãs de sol e da melancolia das tardes chuvosas, não sou adepto do meio dia, por causa do calor do sol a pino nas regiões tropicais. Gosto quando o tempo ficava ameno. Aprecio particularmente a lua nova à noitinha, sei que ela vai aparecendo nos fins de tarde no poente e logo some prá aparecer mais tarde no dia seguinte e mais gorda e mais alta até ser crescente e se tornar cheia. Olho com reverencia e entusiasmo para o mar alto nos tempos da lua nova, já ouvi canções de trovadores falando da beleza dessa fase e lembro-me das gravuras dos uns velhos livros de contos árabes onde, aparece uma lua sorrindo e aquelas sombras num deserto solitário, no qual é possível imaginar as muitas estórias que contavam entre si os viajantes das caravanas. Já a lua cheia me traz uma aura diferente, algo mais ligado a um romance apaixonado, não há nada que me faça ligá-la a contos mal-assombrados de vampiros ou coisa assim. Acho muito bela a lua cheia no momento em que nasce e pode ser em qualquer lugar, quando posso ir à beira mar nesses dias, fico deslumbrado com o quadro da maré alta e o aparecimento no horizonte do soberbo astro iluminado, a vejo como se ela estivesse bem arrumada para uma festa de gala. Meu lado de poeta romântico é razoavelmente desenvolvido e minha estética de pessoa prática aporta de vez em quando no esplendor dessas cenas como igualmente numa mera surriada de bem-te-vi, numa ensolarada manhã qualquer.