Monólogo-cogitações III

Posso imaginar e crer que a vida após a morte é de uma ou de outra forma, ninguém tem certeza de nada... imagino que os espíritos se juntam em grupos de afinidade e isso deve ser como acontece por aqui no meio dos vivos, quando as pessoas que têm certas preferências em comum se juntam em clubes, associações e irmandades. Em que lugar se juntam os que saem daqui? não sei, mas para mim é muito provável que os que têm algo em comum se encontrem e se atraíam e é só, isso a mim parece lógico, quanto ao lugar e o tempo que vão ficar assim e se vão para outro lugar ou se voltam não sei e nem imagino.

Já fui um pouco tagarela quando era mais moço e me juntava com os amigos em alguma bebedeira, ou quando freqüentava o colégio nos intervalos de aula. Hoje estou mais para ouvir, para mim as pessoas vão passando por fases, momentos em que experimentavam os sabores das coisas e vão tirando suas conclusões, ou seja cada um diz de si ou do que aprendeu, do que sentiu ou do que concluiu, cada um tem a sua verdade, o seu ponto de vista, suas opiniões, logo, todos tem suas razões.

Quando era garoto ouvia as discussões de jovens e velhos na minha rua, sobre suas preferências musicais e eu nem imaginava que ia ter tanta predileção pela arte dos sons. Na verdade, a música se tornou minha arte preferida desde adolescente, quando passei a me dedicar ao prazer dos sons. Posso afirmar por experiência própria que há muito de gratificante no ato de tanger instrumentos e de ouvir o que já foi feito por outros artistas. Creio que gostar dos sons musicais, significa ouvir o próprio universo e nós nada mais fazemos do que imitar os sons da natureza, a brisa nas árvores, pássaros e bichos, faço isso porque é uma forma de perseguir oa beleza.

Vejo no mundo pessoas fazendo metas e tentando conseguir coisas bem palpáveis, mas vejo também por tudo quanto é lugar pessoas de alma mais amena tentando se aproximar de coisas fugidias como a poesia, a música, os perfumes, a pintura a dança e as verdades filosóficas... sou atraído por esses artifícios, mas não posso deixar de expressar minha preferência maior pela arte sublime e divina da música!

Escrevi um poema sobre ela, leiam essas duas estrofes.

Aboio ou sinfonia!

Ária, som de fanfarra!

Ou o canto da cigarra!

Batuque-monotonia!

Aleluia-elegia!

Que vibre som consoante!

Reverbere dissonante!

Sons cromáticos modais!

Mixolídios-atonais!

Que tudo exulte e cante!

Cantos dos povos tribais!

Lamentos de sertanejo!

Canções de amor e desejo!

Exéquias e carnavais!

Aclamações dos natais!

Ressurreição jubilosa!

Instrumental, verso, prosa!

Popular ou erudita!

E a vida seja bendita!

Felizarda, venturosa!