O Sol Do Hoje
"Hoje eu levantei um tanto aturdido, porque o sol trouxe a tona todos os nossos defeitos, a nudez deixou expostos todos os nossos caminhos, as marcas da saudade, da longínqua inocência, os traços das escolhas, de erros após erros, até que o hoje acontecesse, até que pouca coisa restasse nessa sala escura.
Eu fiquei um pouco triste, porque na luz o seu rosto era desconhecido, você era uma estranha que eu só conhecia na escuridão das mentiras, na embriaguez de atitudes que mascaravam tudo de você. O que eu poderia fazer além de te oferecer o melhor de mim? Afinal somos todos assim: esmoleiros de amanhãs.
Eu recusei todas as possibilidades de me tornar melhor, porque, pra esse mundo, ser melhor é ser obsoleto. Eu prefiro a margem em chamas que águas que petrificam a alma. Eu escolhi lutar, só não sabia qual era a luta.
Eu era uma criança quando te vi assim, e isso foi ontem, e isso nunca aconteceu. Por conta das maravilhosas portas que se abrem fora da perspectiva, eu me confundo entre sonho e real. Tudo o que idealizei a respeito de você é imaterial, mas a dor... A dor é física, e constrange a minha vontade de desabilitar a capacidade de meu espírito sentir tudo isso. Talvez sejamos assim: feitos de adeus, construídos a partir do vácuo da desilusão, e talvez então seja melhor não sorrir como se fosse um boneco ligado às cordinhas de uma piada contada com base na insignificância da humanidade como conhecemos. Talvez seja melhor me vestir de “qualquer um” e andar por aí, fazendo número, completando um sistema planejado minuciosamente pra aniquilar a individualidade, os instintos que nos aproximam da beleza da vida em harmonia com a natureza e com todo o universo. Todos nós, VOLUNTÁRIOS DESTRUÍDORES DA BELEZA, as crianças sem o abraço.
Me permita cantar essa canção e tocar as estrelas. Ao menos hoje."
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