Monólogo-cogitações I

Se não há nada de novo debaixo do sol, então, só me resta observar toda essa velharia que existe desde antes do meu aparecimento, concordar ou não com o que já foi bastante filosofado e tornado proverbial, com ou sem ares de ortodoxia. Minhas observações fatalmente irão se encontrar no meio das comuns repetições, como acontece com as estações do ano e as fases da lua.

Observo que os dias vão passando para nós os vivos, assim é a vida e não se pode parar essa marcha, tudo continua se transformando, só não sei até quando, e desconheço se alguém sabe. É provável que nunca pare!

Alguns dizem que é preciso pensar e eu concordo. Aliás, pensar, refletir, cogitar, contemplar, ouvir e procurar sentir, é o que eu mais faço sempre que posso, às vezes fico a imaginar coisas... para mim isso é um grande divertimento, pensar, principalmente na vida e nas suas complicações, e até na morte com seus mistérios. Como será essa desconhecida? Será que a tal transformação é como um sono? Será que o morto perde a consciência e se junta a um todo e deixa de ser único? E o paraíso e o inferno com seus diferentes anjos? os oásis dos muçulmanos e os renascimentos dos budistas... quem sabe? É tanta coisa, uns contam coisas que inventam e crêem e outros por mais que tentem usar a lógica para fazer suas preleções e profecias, deliram, beiram a loucura. Não me incomodo tanto hoje em dia com essas coisas, mas ainda penso um pouco nelas embora eu ache que não vale a pena ficar pensando muito sobre coisas que fogem à minha razão, prefiro encarar a coisa cristãmente e sem muito temor com o desconhecido.

Cheguei a me atormentar quando eu era menino, e minha mãe me falou do fim do mundo, onde um quadro terrível se desenhava à minha frente, todos iam ser julgados e alguns seriam queimados num fogo destruidor e constante. Minha mente de criança sofria só de pensar, e quem seria salvo daquele fogaréu? Será que eu e as pessoas que eu gostava, estariam entre os escolhidos para a bem-aventurança? Quem sabia? Ainda hoje, de vez em quando questiono esses e outros relatos do evangelho, mas procuro não duvidar de nada.

Fui crescendo e as coisas foram mudando, mudou também minha maneira de reagir às boas e às más notícias. Estou bem calejado, e muito do que me impressionou, já ficou um pouco para traz, torno-me sério com o que descreio... meu lado crítico me faz calar-me e não chegar a conclusões precipitadas, no fundo sou dotado de grande reverência para o que desconheço.

Sou um cidadão comum, tento ser um bom cristão, trabalhador, e continuo fazendo arte, escrevendo compondo, jogando xadrez, lendo escritos e ouvindo pessoas e mais ainda agora depois que conquistei minha aposentadoria, não sei se ser assim é ser poeta ou filósofo, só sei que amo as artes, o saber, e, se amar a sabedoria é ser filósofo, arrisco-me a fazer parte desse seleto grupo de pessoas, pois gosto de pensar sobre as coisas da vida, observo, penso e às vezes chego a alguma conclusão e estou certo de existe mesmo muitos mistérios pelo mundo, coisas que ninguém consegue explicar bem.

Na minha infância muitas vezes imaginei como poderia ser Deus, o Criador de todas as coisas, como era e quem o tinha criado, naqueles instantes insistia pensando como é que alguém pode se criar antes de ter sido criado, essas reflexões tomavam minha mente com grande intensidade que eu chegava a sentir dores e ficava atordoado, finalmente só me restava a interrogação pura de quem criou quem! Isso, sinceramente, não sei e não conheço quem saiba, e creio ser melhor desviar-me um pouco desse tipo de cogitação, já que respostas para certos tipos de pergunta depende de uma certa quantidade de fé!

Certa vez folheei um livro de provérbios escritos em latim e traduzidos para o português e encontrei ditos interessantes sobre questões da existência, um deles era: “de nihilo nihilum, in nihilum nihil posse reverti”- do nada, nada pode vir, nem pode nada converter-se em nada.

Com fé nesse dito, concluo que o Criador, sempre existiu.

Sobre o tempo: “dies diem docet”- um dia ensina o outro. E mais: “tempus dolorm lenit”- o tempo mitiga a dor.

sobre o amor: “si vis amari, ama”- se queres ser amado, ama. “Qui bene amat, bene castigat”- quem bem ama, bem castiga.

Sobre o desprendimento anotei: “felix Qui didicit contentus vivere parce”-feliz é quem aprendeu a viver satisfeito com o pouco que tem.

Sobre o bem: “Qui dat beneficium probo, ex parte accipit”- quem faz um benefício ao homem honesto, em parte o recebe.

Sobre a vaidade ”vanitas vanitatum et omnia vanitas sunt”- vaidade das vaidades, tudo é vaidade.

Sobre a superioridade :”aquilae non capitant muscas”- águias não pegam moscas.

Sobre o trabalho:”dignus est operarius mercede”- o operário é digno do seu salário.

Sobre a gratidão: “equi donati dentes non inspiciuntur”- de cavalo dado não se olham os dentes, e também: “ingrati homines solent esse immemores beneficiorum”- as pessoas ingratas costumam esquecer-se dos benefícios.

E muito mais coisas como as que se dizem sobre o tempo, que há tempo para tudo nesse mundo.

E é lendo, observando, ouvindo opiniões que vou chegando aos poucos às minhas conclusões, afinal, talvez cada um tenha a sua verdade.