Crer que creio

Na impossibilidade de ter uma certeza mental absoluta, eu sinceramente acredito que me seja possível crer que creio de forma crítica.

Tenho crenças, todos temos. Sem elas é impossível carregar o fardo da experiência do viver, uma vez que nos é impossível ter certeza de tudo. Onde cessa meu conhecimento têm início minhas crenças. É coerente, e muito importante para mim, definir que a crença deva andar sempre à frente do saber e do conhecer, e que esta crença jamais possa ir contra estes. A crença somente pode desafiar o saber quando racionalmente esta refute o conhecer e o saber, e desta forma eu já terei um novo saber e estarei portanto construindo um novo conhecer, e assim estarei abrindo não mais uma vez de uma crença. Entre as crenças que tenho, todas derivam da certeza de que eu sou o que minha rede neural é, e ela define o meu saber e, por conseguinte as minhas crenças. Por ela tenho obrigação de ser crítico no que crer e no como crer. O racional, em seu escopo, necessita do saber e do conhecer, posto assim, o racional possui um limite finito, e a partir daí se inicia a minha crença, que deveria sempre passar por uma análise crítica.

Agora, algo que me impressiona é a nossa capacidade introspectiva de conscientemente revisar nossa consciência, nosso conhecer e nossas crenças, direta ou indiretamente, em um único ciclo ou de forma recursiva. Desta forma, posso acreditar que me seja possível crer que apenas creia de forma crítica, mesmo sabendo que na realidade, como todos, eu tenho um circuito neural falho, e mesmo acreditando que sempre sou crítico, no fundo muitas vezes sou levado por induções, generalizações, a tomar o desconhecido pelo conhecido, preconceitos, e por priming mental.

Impossível ter completo domínio e total consciência sobre tudo que faço ou que penso, mais impossível ainda afirmar ser racional e crítico o tempo todo.

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 11/01/2012
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