Tempo

Não há como não se encantar com a modernidade, tantas facilidades, tudo instântaneo, apressado, urgente. Não se faz mais preciso esperar, basta um toque, um click e pronto tudo ao alcance dos dedos e dos olhos. Não é preciso ir longe, o longe se faz perto e presente em poucos segundos. Pesquisar não dá mais tanto trabalho, comparar e comprar também não, basta escolher e pronto.

Também não é preciso tanta ansiedade, tanta espera, até pra dizer eu te amo é mais rápido, mesmo que não seja sincero, em um estalo e alguns toques, ilude-se a qualquer um. Talvez esteja soando como crítica ou ironia, mas gosto destas vantagens e tento entender até as amizades e amores virtuais que estão tão perto e ao mesmo tempo tão distantes,apenas sinto que não poderia viver assim.

Sou do tempo em que se passava o dia ao lado do rádio pra ouvir novamente aquela música, que se esperava aquela revista chegar na banca pra conhecer aquele cantor ou aquela banda que fazia trilha sonora pra aquele amor platonico. Tempo em que se escrevia cadernos e cadernos com letras de músicas, poesias e cartas de amor que nunca eram entregues. Que se gastava inumeras fichas de telefone pra pedir que aquela música tocasse na rádio preferida.

As vezes esperava uma semana pra ouvir a voz da pessoa amada, esperava meses pra comprar aquele disco, aquela roupa e sonhava que um dia aquela banda viesse até aqui, mesmo sabendo seria quase impossivel ir ao show, só veria mesmo pela tv e em preto e branco.

Os sábados eram nos cinemas e as baladas eram em os bailinhos de aniversários de amigos em casa de família. Os domingos eram de descanso perdidos em pensamentos e sonhos, sim sonhavamos muito, a verdade é que mais sonhavamos do que realizavamos, ainda assim nossos sonhos é que nos direcionavam.

Os beijos eram sempre escondidos, e o sexo era uma questão de coragem e loucura, proibido e condenado, secreto, mas lindo. A frase eu te amo era desejada, esperada e guardade para alguém especial, os amigos eram poucos, mas presentes de carne e osso, dividiam as dores e os segredos.

Não acredito que eramos mais felizes do que os jovens de hoje, mas eramos persistentes, por ter muito pouco corriamos atrás do algo mais. Talvez pelas proibições e tabus, sonhavamos mais. Hoje a liberdade é gigantesca, e faz com que tudo seja descartável. Não posso dizer se é bom ou ruim, só digo que tenho saudade de muitas coisas, sei também essas facilidades de hoje fazem parte das coisas que queriamos, algumas nem imaginavamos que existiriam um dia, mas se naquele tempo pudessemos ver o futuro, nos encantariamos com o mundo de hoje.

Cada tempo é um tempo, e pertence a quem vive nele, a maneira em que se interage é que determina o que ficará na lembrança e o que será esquecido, o que for intenso será guardado e o que for falso condenado.

Leila Sales Rosolem
Enviado por Leila Sales Rosolem em 11/01/2012
Reeditado em 11/02/2013
Código do texto: T3434734
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