O que eu sinto
Sinto falta do tempo em que confiávamos um no outro. E ainda não sei se pior era a falta de confiança, ou a falta de importância que a falta de confiança havia adquirido.
Sinto falta daqueles nossos telefonemas. Eles diziam muito, mesmo quando não havia nada para ser dito.
Sinto que as crianças tenham convivido com as nossas divergências. E como podíamos querer educá-las se nem mesmo conseguíamos ser exemplos do que pregávamos?
Sinto que tenhamos delegado ao tempo a missão de resolver tudo por nós. E do que adiantava querer tê-lo tido como júri, se nem mesmo dávamos ouvidos ao seu veredito?
Sinto que o destino tenha sentido que era hora de você partir. Tivemos tantas oportunidades, mas fomos sempre tão inertes. Ele não.
Sinto que agora eu já não possa sentir mais nada, a não ser saudades do tempo em que, pelo menos, sentíamos tudo isso juntos.