SÓ POR HOJE

Entender todos os processos da vida, ou se antecipar a todos eles não é nada fácil. A vida é complicada, pessoas são complicadas, sonhos são complicados, e como diz aquela expressão em latim, “tempus fugit”. A gente não aprendeu ainda a viver a vida, mas já precisa saber se barbear, nem terminou o colégio com aquele monte de amigos e já precisa decidir o que será para o resto da vida.

Aliás, essa expressão “para o resto da vida” é muito clichê demais, mas às vezes é a única expressão que temos para definir o quanto estamos apegados a algo, mas a verdade é que não temos o controle do tempo, e o tempo não resolve tudo. Nós não vivemos simplesmente na sombra do “se”, quase sempre no passado, mas também somos assombrados com o futuro das coisas.

Renato Russo entendeu isto quando compôs “Só por Hoje”, a música é linda, mas preciosamente inteligente em se tratando de como lidar com a vida e seus processos. Penso que a vida precisa ser vivida no hoje, e ao invés de grandes expectativas futuras resumirmos apenas em um “só por hoje”.

Não pare de chorar pelo resto da vida, não chore por hoje. Decida amanhã o que fazer com o amanhã, que amanhã será hoje também. A vida pode ser vivida com menos pressões se entendermos que o que podemos ser o podemos hoje, amanhã está longe demais, e ontem já passou.

Isso me faz lembrar um conto de Luiz Fernando Veríssimo, ele está em um bar imaginário bebendo para esquecer o que ele não havia feito. Acertado na sena, topado aquele emprego, completado aquele curso, chegado antes, chegado depois, dito sim, dito não, ido para Londrina, casado com Doralice, feito aquele teste...

No fim das contas ele acaba se encontrando com todos os seus “eus” caso tivesse feito cada uma destas coisas. No fim das contas estavam todos no bar, todos bebendo para esquecer alguma coisa, alguns já mortos, outros cansados pelo tempo, outros marcados pelo sofrimento, mas todos estavam ali, mas nenhuma das versões dele mesmo estava contente no que haviam se tornado.

Então ele conclui que ele era a melhor versão dele mesmo naquele lugar, e no fim de tudo fica a máxima de que o mais importante não são as decisões que você toma, ou as atitudes que você não teve, mas sim, aquilo que foi feito.

Chegar ao final de mais um ano nos coloca contra a parede, tudo renasce na nossa contabilidade existencial. É o emprego que não foi o esperado, é o casamento que acabou, aquele carro não era tão bom assim, a viagem poderia ter sido melhor, ou da próxima vez vou para outro lugar, ou o namoro que acabou, ou tudo aquilo que a gente olha no espelho é quer mudar.

A gente quer começar academia, quer fazer dieta, quer emagrecer, que nunca mais fazer isto, ou nunca mais fazer aquilo. A questão é que nada disso acaba oficialmente acontecendo, a razão para isto é simples: nós nos apegamos demais aos planos do “nunca mais”.

Renato Russo acertou em cheio, em outras palavras ele está dizendo é para substituirmos o “nunca mais” pelo o “só por hoje”. Decida por hoje não beber, decida por hoje não ligar mais, decida por hoje se desapegar, decida por hoje ser mais feliz, decida por hoje não chorar.

A simplicidade da vida depende de respostas que damos hoje, talvez se puder usar a expressão sucesso, eu diria que o sucesso da vida depende do “só por hoje”. Então, não espere novos resultados da vida sempre pensando no “nunca mais”, e dedique-se ao “só por hoje”, talvez você não veja mudar muita coisa na sua vida de imediato, mas lhe garanto uma coisa, você nunca mais será igual. Opa! Nunca mais será igual?

Está certo, isso está errado, nunca mais é muito tempo. Então eu diria, faça de você uma pessoa melhor, ou uma pessoa diferente “só por hoje”, e vá repetindo isto em todos os "só por hoje" que existirem na sua vida, então você verá que todos os dias valerão à pena.