AI SE EU TE PEGO... Cultura popular brasileira?!

Li num portal de discussões muita gente falando mal do Michel Teló e de sua música "Ai, se eu te pego!", repudiando-a como "cultura popular brasileira", como a mídia internacional a tem reputado, diante do enorme sucesso pelo mundo a fora.

Primeiramente, esclarecendo, no meu parco saber, "cultura" e "cultura popular" são um tanto diferentes em seus significados.

A primeira, cultura, está sedimentada no comportamento de um povo. Comportamento este adquirido por meio de sua adaptação às condições de vida. A cultura é construída no tempo pelas crenças, artes, moral, linguagem, tradições, costumes, folclore, entre outros fatores internos e externos.

A segunda, a cultura popular, é também chamada de "cultura de massa". É a expressão dos hábitos mais generalizados de um povo em específico, ou seja, vernacular. Acaba servindo para distinguir este povo dos demais, pelo seu gosto e sua aceitação, generalizada, de padrões difundidos em massa. A cultura "de massa" se espalha rapidamente, contando com participação ativa da população em geral. Sucessos musicais relâmpagos como esse do Michel Teló passam a fazer parte da cultura popular brasileira. Não tem nada de mais nisso. Nem vergonhoso. O Brasil é conhecido como país livre, batalhador e também por sua alegria. A música para quem gosta é alegre e para quem não gosta é idiota. Como disse antes, por outro lado, a grande maioria da população, com a ajuda dos meios de comunicação, acabou "gostando" da música, tornando-a assim "popular".

Na minha opinião, atualmente, quem faz uma cultura se tornar "popular", não são as pessoas, mas sim as indústrias, comércios e meios de comunicação. O que se trabalha é a "aceitação popular" da música que, se determinado povo aceitar, a tornará popular.

Feliz (no gosto de muitos), ou infelizmente (no gosto de alguns), a música "Ai se eu te pego" caiu no gosto popular brasieleiro e passou a integrar a "cultura popular" sim. A música em questão já faz parte do povo.

Também acho péssima a letra da música "Atirei o pau no gato", mas é cultura popular brasileira. Sei que é uma cantiga infantil, mas a letra pode ser encarada como um espécie de apologia a crime ambiental (risos). Mesmo assim, as pessoas de bom senso não saem por aí dando pauladas nos gatinhos depois que crescem.

Sou contra radicalismos de toda sorte. Não vejo motivos para embates polêmicos sobre questões que não podem ser unânimes. Logo, tem determinadas coisas que a "resistência vazia" a ela não consegue negar ou mudar, uma delas é o fato de Michel Teló já ter eternizado a música no ideario popular.

O compositor, cantor, produtor, músico prepara uma música que pretende "vender" como um produto, deixando um pouco de lado o fator "público" e se voltando para a ideia principal de torná-la "popular", alcançar a mídia, fama e dinheiro, por consequência.

Demagogias à parte, não podemos simplesmente crucificar um artista por ter a sorte de cair no gosto pop internacional, independentemente de haver ou não qualidade no seu trabalho. Mesmo porque o gosto é muito relativo, cada um tem o seu.

Também não podemos comparar Michel Teló aos outros artistas brasileiros que deveriam ou poderiam, por mérito, estar ou ter feito sucesso lá fora, como ele está fazendo. Seria injusto. Devemos relevar que o mérito é diretamente proporcional à aceitação popular da música. Num país continental onde o acesso às necessidades básicas é precário e que tem grandes diferenças sociais entre suas regiões, não é fácil se tornar alguém de sucesso, tão pouco ser unanimidade. Sorte e mérito de Teló e sua equipe de produção, bem como da gravadora, ao regravarem a música da Sharon e do Cangaia de Jegue, em modus sertanejo universitário.

Como tudo na vida, a música é boa ou não, dependendo de muitos fatores, tais como quem a escuta, momento em que escuta, com quem escuta, do estilo que está acostumado a escutar, se gosta de dançar, se é profissional, amador ou ouve por distração. É lógico que o fator letra deve ter a ver com a pessoa, tem de falar da sua vida. A música do Michel é simples, fácil de se memorizar, com uma batida replicada durante toda ela que faz a gente cantar como quem canta uma cantiga infantil, com uma pitada sexy brasileira. Afinal, quem nunca disse "ah, se eu te pego" para alguém no interesse de chamar sua atenção e seduzí-la na balada?! Eis a razão de boa parte do sucesso, a letra simples que fala da vida cotidiana das pessoas, com uma apimentada do ritmo sertanejo universitário.

Por fim, a mídia internacional diz que ele, com sua música, está à frente de artistas internacionais nas paradas musicais, suplantando ícones da música pop internacional. Na minha opinião a menina (Rihana) que canta "guarda-chuva..." não tinha nada que fazer sucesso, a não ser por suas longas pernas, muito menos, loiras magrelas em vestidos de carne bovina, como Lady Gaga. O mesmo com os demais artistas internacionais egocêntricos, que têm letras pobres e demasiadamente forçadas na produção instrumental, no interesse de auferir um estilo mais comercial do que comprometido com qualidade para seu público.

Enfim, parabéns ao Michel por conseguir levar seu trabalho para além de nossas fronteiras. E como tudo que já escrevi, o sucesso de um brasileiro é o sucesso do seu povo e promove sua cultura popular.

O bom não é ser igual, nem diferente. Legal é ter identidade! É como o gosto, cada um tem o seu.