Somos o que podemos ser
O que somos não foi algo que desejamos ser. Somos fruto de um conjunto de coisas que contribuíram para que sejamos quem somos. Somos formados por pedaços de um passado que a muito se foi, mas que em nós continua vivo. Mas é bem verdade que nem sempre o que somos satisfaz aqueles ao nosso redor. Sempre existe uma espécie de cobrança. O que a maioria das pessoas não percebe é que elas também não são perfeitas, ninguém o é. E na maioria das vezes essas cobranças são feitas sem atentar que não somos o que somos porque quisemos ser. Não acredito que uma pessoa depressiva, por exemplo, em sua infância sentou e determinou ser alguém que não sentiria vontade de sair de casa, que convive constantemente com uma angustia que não a deixa. Que chora várias vezes ao dia sem saber por qual razão chora. Ah, não acredito nisso. Podemos até fazer planos em nossa infância, mas a verdade é que cada um deles é derrubado pela vida. Uma pessoa que em sua infância era amável, sorridente, pode muito bem vir a se tornar uma pessoa amarga e carrancuda e vice e versa.
Cada pessoa é “construída” com os tijolos que a vida lhe dá. Claro que existem coisas que precisam ser mudadas, mas é bem verdade que nunca seremos mudados por completo, se assim o fosse, não seríamos quem somos. Quando penso em mim há uns doze anos atrás percebo que eu era outra pessoa. Como eu sorria e com que facilidade eu demonstrava meus sentimentos. Mas percebo que a vida me mudou, não porque eu quis, mas me mudou. Fui forçado a mudar. Fui muito abusado devido minha inocência. Tive meu amor explorado e o coração ferido. Fui traído muitas vezes. Já me importei muito e só recebi descaso em troca. Pois é, tais coisas mudam a gente. Sou assim porque até hoje só me entreguei a quem não merecia. A verdade é que ninguém permanece o mesmo. A cada novo dia somos uma versão atualizada de nós mesmos.
Eu sinceramente cansei de ter que ficar pedindo desculpas pelo que sou. Percebo que foi um absurdo já tê-lo feito. Cansei de ouvir sugestões de como eu deveria ser. Cansei de ouvir que sou frio e insensível. A maioria dos que me dizem isso nunca me viram chorar. Lembro-me de um amigo que teve a ousadia de dizer que eu não ligo para meu sobrinho e isso porque nunca me viu espernear e me desesperar diante da doença dele. Ouvi de outra pessoa que eu não ligo para nada e para ninguém. Mas, tudo isso não passa de intuição. Ninguém é capaz de saber realmente o que o outro é e sente. Eu gostaria de voltar a ser aquele eu que dizia eu te amo a torto e a direita, que abraçava, beijava e chorava por qualquer coisa. No entanto, não sou mais. Sou o que posso ser. Como canta o Engenheiros do Hawaii “somos o que há de melhor, somos o que dá pra fazer”. Por enquanto minhas experiências só me deixam mais frio.
Precisamos aprender que “só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame não significa que esse alguém não o ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.”